terça-feira, abril 30, 2024
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O poeta na contramão da maré odiosa

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Por Roberto Prado

O universo virtual aproxima a ciência da magia. Ele tem o poder de trazer os distantes, unir os contrários, ampliar conversas, dividir descobertas, desenrolar intrigas, aplainar discórdias e tantas outras coisas por vir que ainda não se sabe. Porém, em sua liberalidade, também permite a invasão deste espaço por uma ruidosa horda de odiadores profissionais sem limites, pisoteando em tudo e em todos. E que atire o primeiro kkk na testa do semelhante aquele que nunca se contaminou por essa psicosfera e acabou deixando lá ao menos uma nódoa raivosa impressa em silício.

Por estas e outras razões, “Poemas de Amor Ainda” já nasce de uma proeza extraordinária, ter sido concebido, quase integralmente, nos domínios da rede social Facebook. Pois o livro é fruto da paciente dedicação do poeta Antonio Thadeu Wojciechowski em, conscientemente ou não, tomar para si a tarefa de purificar em ondas de afeto o ambiente empesteado pelos tsunamis da vaidade, da inveja, da cobiça. Nesse trabalho de formiguinha, pedra por pedra, post a post, o poeta acabou erguendo uma pirâmide. Milhares e milhares de curtidas e coraçõezinhos depois, os poemas criados por Thadeu nesses anos, com paciência de monge, acabaram formando uma sólida unidade. E daí para o livro físico foi um pulo.

E a revolução começa pelo título, um aforismo zen que tem o dom de multiplicar sentidos. Pois, pensando bem, a frase “poemas de amor ainda” é uma pilha atômica, altamente concentrada, da qual podemos extrair múltiplos significados. Por exemplo, é uma afirmação de resistência, de quem insiste em cantar o amor, amor para sempre, zombando da eternidade. Mas também pode ser uma irônica pergunta do mundo ao poeta por ele persistir na missão: amor ainda?


E, já que falamos de um livro de poemas de amor, é preciso esclarecer que não se trata apenas de canções para casais enamorados, mesmo que esses estejam fartamente servidos. Nestas eras em que a produção das destilarias de ódio vem crescendo ano a ano, Poemas de Amor Ainda faz a revolução. Nele encontramos generosas doses de amor ao próximo, amor à natureza, amor à humanidade, amor ao conhecimento, amor à tolerância, amor à família e para completar amor, amor e mais amor ainda. Para fechar essa conta e nos deixar eternos devedores, em todas as páginas Thadeu mostra o amor pela arte da poesia, que faz desse livro uma verdadeira mina de sonoridades, assombros e descobertas, sob a cuidadosa batuta de um profissional na descoberta de belezas.

E,se não bastasse, é preciso creditar outra proeza a Antonio Thadeu Wojciechowski nesta sua mais nova obra: a enciclopédica variedade de temáticas abordadas. Do cosmos à conversa com amigos, da corajosa autoanálise à crítica social, do humor imprevisto ao terror absoluto, dos mistérios do planeta à saudade da mãe, de tudo se faz arte, a vitória do espírito sobre as doenças do tédio e da mesmice. Pois a revolução do amor não mata, mas ressuscita. Ainda.

POEMAS DE AMOR AINDA

Do azul do céu à cor dos versos não há nada
que não sirva pra ouvir ou não seja de amar:
este livro contém poemas para dar
e vender como pães de uma mesma fornada.

Os tão bonitinhos mas extraordinários
são versinhos que volta e meia vão e voltam,
principalmente nas pessoas que se soltam
ao ouvir sua voz na voz de um Stradivarius.

O requinte do autor vai dar náuseas e nojo
porém não passa de um burro metido a besta!
Da primeira leitura à quarta, quinta ou sexta
vai que é um upa e o livro até merece estojo.

Assim ele se torna a sua alma gêmea
e diz o que você diria se dissesse
que o amor da sua vida disse S.O.S.
quando você lhe deu um beijo de cinema.

As rimas aqui estão num mato sem cachorro.
A carência bonita baixa a pomba gíria em…

ORAÇÃO PARA MIM OU PARA NÓS

Minha voz tem solos indecifráveis,
enigmas sem fim, pontos, hifens, vírgulas,
fantasias e aspirações ridículas,
danações e estragos irreparáveis;

mas não sou eu e, sim, almas de outros,
que habitam minha lastimosa injúria.
Mas eu me nego a ser prisão de loucos
ou camisa de força corta fúria.

Não, não posso conter em mim a essência
das dores que sangraram corações
e inevitavelmente às emoções
fundiram fundo, forma e consciência.

Minha precariedade tem santíssimos
apelos imortais, nem Freud explica.
O que o poeta quer não paga dízimos
e nem altar algum especifica.

O que sou ninguém é, nem pode ser,
e, no entanto, o que somos se parece
tanto ao deus que recebe nossa prece,
que na mesma cruz cremos padecer.

Bem melhor eu seguir …

COMO É BOM SER EU

poeta, é como todos me chamam
e como isso é bonito de se ouvir
be or be not an option, Shakespeare,
a alma solitária que todos amam

sento-me numa estrela e sinto-me
olfato das palavras navalhadas
paladar ácido da garrafa de absinto me
puxando pela língua a dentadas

se eu fosse o Fernando, pessoa,
seria uma piada de português
não que a sua poesia não seja boa
é que tenho no peito o erro da vez

água na boca dá gosto de delícia
meu verso, livre, foge do lugar comum
e não goza com a cópia sub-reptícia
minha puta poesia não dá pra qualquer um!

SERVIÇO:

PRIMAVERA NOS OLHOS: Lançamento de “Poemas de Amor Ainda”, de Antonio Thadeu Wojciechowski e “A Caverna dos Destinos Cruzados”, de Monica Berger e Sérgio Viralobos. Show  da Orquestra Sem Fim.

DATA: 20 de setembro, a partir das 20h.

LOCAL: Jokers (R. São Francisco, 164)

INGRESSOS: Entrada franca.



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