O jornalista político Aroldo Murá informa que um amplo e bem fundamentado estudo sobre religiões foi apresentado na semana passada pelo jornal Folha de São Paulo, tratando da fidelidade dos crentes – católicos, evangélicos, espíritas – às suas greis.
No geral, a conclusão é de que os católicos investem pouco no culto romano no Brasil, enquanto os evangélicos – afora aqueles denominados de desigrejados – são fieis ao dízimo ou meras ofertas às suas comunidades de fé. Esse pouco investimento, tem muitas explicações.
O que ocorre, e o estudo talvez não tenha sido bem claro quanto a isso -, é que, com o passar dos anos, e com a perda substantiva de fieis católicos, na Igreja de Roma as ofertas foram achando outras formas de se acomodarem. E é verdade que a simples entrega de uma oferta, durante a missa, foi sendo alcançada pela inflação, perdendo exponencialidade.
Para o padre WJK, que pede anonimato, um expert em finanças no mundo católico brasileiro, o que teria ocorrido “é fácil de explicar”. Assim, com o surgimento das chamadas “novas comunidades” – de aliança e vida, assim denominadas-, as doações cresceram muito em relação à mera entrega de ofertas (ou “esmolas”) nos templos. São muitas e fortes as novas comunidades que carreiam valores “difíceis de estimar”, diz o mesmo padre.
Ele cita entre as instituições que foram tornando raquíticas as ofertas à Igreja, o caso da Evangelizar, do padre Reginaldo Manzotti, uma azeitada instituição arrecadadora, graças ao prestígio do sacerdote, e às habilidades de um sobrinho, “tesoureiro celeste”, como o apelidaram membros do grupo curitibano com alcance nacional. Andariam em R$20 milhões/mês as entradas de ofertas nos cofres de Manzotti, estima um ex-padre que o conheceu há anos, quando então era um desconhecido, no Norte do Paraná.
As novas comunidades estão fortes, arrecadam por boleto, cartão de crédito, desconto em conta corrente. Neste caso, o padre analista WJK, cita em bom som os Milites da Imaculada, potente rede de rádio e televisão, com diversas obras sociais e espirituais em todo no Brasil.
A Evangelizar “deve faturar milhões de reais mês”, observa o padre analista, citando, para reforço, “a exibição às claras de tanto poder, como edifícios novos, modernos, inteligentes, que mantém em Curitiba com centenas de funcionários. O padre, que não é de ferro, garante cachês aos sacerdotes que fazem o elenco de sua emissora. E vive em paz com o Arcebispado, ao qual deve destinar significativas entregas financeiras.
Se o caso da Evangelizar e outras comunidades “é um mistério não revelado no seu todo”, há outras comunidades novas que são basicamente ricas, mantidas por um universo de católicos que – “em muitos casos”, diz o padre WJK – acomodam suas consciências com as doações mensais em multiplataforma. Agora, também usam o PIX.
Fique claro que ricas novas comunidades, como a de João Clá, os Arautos do Evangelho, e a Shalom (as duas com reconhecimento pontifício) lideram a lista do “dinheiro desviado das paróquias” para sua ações. Como também são notáveis a Canção Nova, de Cachoeira Paulista, e até uma especializada em viagens de turismo religioso, a Obra de Maria.
Assim, o dinheiro de Pedro para a Igreja ganhou, no Brasil, novos caminhos.
Modernizado na forma de arrecadar, “andando com o século”, diz uma fonte da Evangelizar, para quem “há até possibilidade de o padre Reginaldo Manzotti aceitar as muitas propostas de investir em bitcoins.
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