segunda-feira, abril 29, 2024
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InícioGeralDal Molin e Mazzalai, da era medieval italiana ao Brasil de 1870

Dal Molin e Mazzalai, da era medieval italiana ao Brasil de 1870

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O jornalista Ronildo Pimentel, do Cabeza News, conta a história de metade do tronco genealógico da família dele nessa reportagem, que inicia como toda história que se preze. A trajetória dos personagens desta narrativa é situada na quarta geração de seus descendentes, os bisnetos de Maria Francesca Isabella Dal Molin e Giovanni Battista Maria Mazzalai. Ambos nasceram onde está o extremo-Norte da Itália e, após cruzar ainda crianças o Mar Mediterrâneo e o Oceano Atlântico, se encontraram na colônia Dona Isabel, acampamento para imigrantes criado em 1870, onde hoje está o município de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, no Sul do Brasil.

Esta história começa com a chegada de quatro crianças na década de 1840, em uma região que ainda pertencia ao império austro-húngaro cercada de montanhas, castelos e vilas muradas com fortes resquícios do período medieval que se espalhou pela Europa durante a Inquisição. Muitas destas estruturas sobreviveram aos intensos confrontos entre os povos e estão conservadas até os dias atuais. Em algumas comunidades, cerimônias anuais relembram os períodos de constantes disputas por território.

A narrativa destes pioneiros do Brasil Colonial revela ainda o espírito guerreiro das mulheres a partir da união destas duas famílias. Giovanni Eugenio Dal Molin, filho de Giovanni Dalmolin e Domenica Tommasi, nasceu em 27 de novembro de 1844, em Besenello, então Tirol. Ele foi batizado na Paróquia Santa Agata e teve dois irmãos – Domenico Luigi Dal Molin (1842) e Santa Filomena Dal Molin (1846). Perto dali, em Cognola, também no Trento, em 16 de outubro de 1847, nascia Amalia Domenica Dorigatti.

Giovanni Eugenio e Amalia Domenica se conheceram, casaram e começaram uma família na comuna de Povo, no subúrbio de Trento, onde tiveram os dois únicos filhos – Cirillo Giovanni Francesco Dal Molin, em 11 de outubro de 1875 e Maria Francesca Dal Molin no dia 14 de junho de 1877. Povo fica há três quilômetros de Trento, ao leste do vale, no sopé das montanhas Marzola e Celva e é o lar das escolas científicas e de engenharia da Universidade de Trento e centros de pesquisa.

Ferdinando Mazzolai nasceu no dia 07 de novembro de 1840 em Trento, na província de Trentino-Alto Adige. Sua futura esposa, Maria Catterina Ioratti, nasceu oito anos após, em 22 de agosto de 1848 na comuna de Sternigo di Pinè, em Trento. Os dois se casaram e desta união nasceu Giovanni Battista Maria Mazzalai, no dia 23 de julho de 1873.

Ambos estão sepultados no Brasil – Ferdinando faleceu no dia 30 de agosto de 1924, em Ajuricaba (RS) aos 84 anos de idade, Maria Catterina no dia 06 de julho de 1912 em Ijuí (RS). O casal deixou os filhos Rosina que na época do falecimento de Ferdinando tinha 55 anos, João com 52 anos, Maria de 49 anos, Antonio 41 anos e Augusto de 38 anos.

Só para contextualizar, a região onde nasceram nossos personagens foi colonizada perto de um século anos antes de Cristo, pertencia ao império austro-húngaro e está localizada na fronteira do Vêneto e Lombardia na Itália. Até 1918 era chamada Südtirol ou Tirolo Meridionale, identificada como Tirolo Italiano por causa de seu idioma, apesar de pertencer a Áustria, cuja língua mãe é o alemão.

Com a derrota do império austro-húngaro na Primeira Guerra Mundial, em 1918, foi assinado um tratado que definiu o novo mapa territorial da Região do Trentino Alto Ádige. A partir de 16 de julho de 1920 as províncias de Trento, Bolzano e Gorizia passaram a independentes e a pertencer ao então Reino da Itália. A estimativa de historiadores é que entre 60 e 70 mil cidadãos de origem austríaca-húngara tenham migrado para o Brasil de 1870 a 1920.

A grande jornada

Em 1877, logo após o nascimento de Maria Francesca e com Cirilo aos quatro anos e pouco de idade, Eugenio Dal Molin e a esposa Amalia tomaram uma decisão que mudaria tudo em suas vidas e no futuro dos filhos. Ante as dificuldades sociais e trabalhistas que se apresentavam aos moradores de uma região distante do centro de poder do império austro-húngaro e envolvidos ida em constantes guerras políticas e econômicas por território, largaram tudo e seguiram para uma grande jornada.

Primeiro cruzando por estradas a pé ou em carroças e trechos de trem até Gênova, cidade portuária da Itália, no Mar Mediterrâneo, onde eram amontoados em vapores, como eram conhecidos os substitutos dos navios empurrados a vela ou remo. Com os novos meios de transporte, o tempo de travessia caiu de dois meses para menos de 30 dias, dependendo as condições do Mar Mediterrâneo e o Oceano Atlântico.

Atraídos pelas condições facilitadas oferecidas pelo governo brasileiro para atrair imigrantes europeus, como passagem, estadia e até subsídio por um determinado período, subiram com os filhos a bordo do vapor Nord América sem ao menos saber que o destino era o porto do Rio de Janeiro. Eugênio e Amália não tinham nenhuma certeza do que encontrariam pela frente, além daquela de que precisavam tentar uma nova vida.

As passagens concedidas as famílias italianas, em geral pelo governo brasileiro, eram todas de terceira classe, que ficavam, geralmente, nos porões dos navios, com pouca ventilação, muito escuras e úmidas e quase sempre superlotadas. Historiadores relatam que as condições sanitárias dos vapores eram péssimas, ambiente propício para proliferação de doenças contagiosas. Surtos de piolho, cólera ou sarampo eram comuns e, como não havia para tratar dos doentes, muitos não chegaram ao destino final.

Seus corpos eram envolvidos em sacos de pano feitos com roupas de cama e lançados ao mar após uma cerimônia religiosa que durava poucos minutos reunindo parentes e alguns conhecidos por ventura a bordo. Para aliviar o sofrimento do percurso, só as cantorias de músicas tradicionais italianas, uma tradição mantida até os dias de hoje. Após a jornada, a família Dal Molin alcançou o solo brasileiro no dia 23 de agosto de 1877, partindo de Gênova. 

Conforme consta do livro de imigrantes do Nord América, Eugênio tinha 33 anos, Amalia 30, Cirillo 2 e Maria Francesca 1 ano. Todos são nascidos antes de 1918 (ano da anexação) e considerados cidadãos austríacos, apesar do território atualmente pertencer a Itália. Nas últimas décadas, novas legislações, especialmente na Itália, tem facilitado o acesso ao passaporte de cidadania.

Dias de dificuldades

A vida dura no Brasil Colonial dos anos 1870 e início dos anos 1880, mesmo com 33 anos, não foi muito generosa com Eugênio Dal Molin, que morreu aos 36 anos, aproximadamente três anos após chegar ao novo continente e hoje dá nome a rua no bairro São Vendelino, em Bento Gonçalves. Assim como ele, os primeiros imigrantes italianos (e austríacos) que chegaram a partir de 1875 à colônia Dona Isabel formada na esplanada onde hoje está localizada a Igreja Cristo Rei, no bairro Cidade Alta, enfrentaram muitas dificuldades enquanto aguardavam a distribuição de terras.

O mundo gira e Amália Domenica não teve escolha, seguiu a jornada, agora sozinha cuidando de duas crianças, Cirilo com sete para oito anos e Maria Francesca com quatro anos. Após ficar viúva, em 1881, a tataravó desta história casou novamente na ainda Colônia Isabel, no dia 13 de maio de 1882, com Domenico Putrich, um austríaco que nasceu no dia 24 de agosto de 1845, em Terragnolo, Rofreit, Trient, Tirol. 

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