domingo, abril 28, 2024
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Para relembrar momentos do jornalismo curitibano

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O jornalista político Aroldo Murá teve um dejá vu e conta que numa revisita à Curitiba em que cresci, desde os oito anos – tempo que depois se alternaria com outras cidades, nas quais meu pai, servidor federal – teria de atuar, como Irati, Lapa e Londrina – reencontro às
vezes contemporâneos de jornal. Um deles, meu amigo Hélio Puglielli, memória mais forte da imprensa paranaense, à qual ele ajudou a imprimir sopros de modernidade. Foi editorialista por dezenas de anos de O Estado do Paraná. E mais: foi o professor do Curso de Jornalismo da UFPR pelo qual passaram muitos dos profissionais que aí estão. Dirigiu também o Departamento de Ciências Sociais da UFPR.

Um dos estudantes, Ilana Lerner, um dia me contou: sua turma ficava, em boa parte do período das aulas, na cantina, abastecida por fofoca e cafezinhos, ali do campus da Rua XV. Martelavam o mundo. Como só estudantes sabem fazê-lo. E a “sessão” corria em torno das mazelas do Curso. Só concedia uma exceção: as aulas de Hélio, que ninguém queria perder… Puglielli era o “must” jornalístico encarnado no professor.

 Em pé, a partir da esquerda: Nelson Faria de Barros, Eduardo Rocha Virmond, Aroldo Murá, Ayrton Luiz Baptista e Ronald Stresser; sentados, a partir da esquerda: Emílio Zola Florenzano, Nadyesda Almeida Bonet, Dino Almeida, Maria Helena Canet, Márcia Morosini.

RARIDADES JORNALÍSTICAS

Nesse mergulho não profundo nas memórias da vida de jornal anos 1960/70, tenho de retornar à redação do antigo Diário do Paraná, em que comecei a trabalhar em 1960, levado por Dino Almeida. Ali, ao lado de nomes consolidados no metier, como Luiz Geraldo Mazza, Emílio Zola Florenzano, Adherbal Fortes Sá Junior, Silvio Back, Roberto Novaes, Ayrton Baptista, Carlos Danilo Corte, Dino Almeida, René Dotti, Eduardo Rocha Virmond – entrei numa diferenciada escola. Tão diferenciada pelo material humano que a compunha, quanto o imã que o DP exercia na cidade. Superava a Gazeta do Povo.

Vi, por exemplo, como outros colegas viram, o Maneco, office boy de raízes bem populares, travar o seguinte diálogo com mais um “cliente” que aportava no balcão da Redação da José Loureiro, 111:

– Por favor, quero falar com o Adherbal Stresser.

Maneco, ágil, foi dizendo que Adherbal, o diretor geral dos Associados no Paraná, não estava. Não havia previsão de chegada. O “cliente” insistiu: “Diga que é o Assis Chateaubriand que quer falar com ele, com urgência”.

Homem do povo, língua solta e desconfiança até os dentes, o afro-brasileiro Maneco completou:

– Pare, moço! Não temos tempo a perder…

Resultado: depois de muita insistência, um dos jornalistas foi mediar o conflito e, de imediato, reconheceu um dos homens mais poderosos do Brasil de então, Assis Chateaubriand. Abriram-se as portas ao Chatô, e, para Maneco, sobraram elogios do dono da poderosa rede de comunicação, talvez, proporcionalmente, maior que a Globo dos dias atuais.

Momentos hilariantes sobraram para quem os guardou, e podem ser úteis a Adherbal Fortes de Sá Junior, que está escrevendo uma história da imprensa paranaense.

Um retrato do guichê da Redação do DP daria alimentação forte para que se entenda o papel da mídia impressa (hoje nos estertores) na vida de Curitiba.

Um dos personagens mais constantes no guichê era um jovem padre, embatinado (estávamos antes do Concílio Vaticano II), padre Pedro Fedalto. Humilde, braço direito do majestático arcebispo D.Mauel da Silveira D’Elboux, o sacerdote fazia sua peregrinação quase diária, exercendo o papel de um assessor de imprensa. Deixava nos jornais e rádio/TVs, um noticioso, geralmente a décima cópia em carbono das notícias de interesse da Cúria.

INVASÃO DA PMEP

O mais quente dos dias em que vivi na redação do DP foi a da entrada de um grupo de quatro soldados PMEP, armados e vestidos para a guerra, à procura de “subversivos”, estudantes que protestavam contra o regime de 1964. Eles, três jovens, havia sido acolhidos por nós. Coube ao Emílio Zola parlamentar com a brigada: talvez, tivessem entrado. Mas a casa estava aberta para uma busca policial. Fez uma advertência:

– Só não forcem aquela porta lá, no gabinete fotográfico. Se abrirem a porta haverá a perda de centenas de fotos, algumas delas mostrando ações da PMEP, que, assim, irão sumir.

Os soldados fizeram uma varredura, privilegiando as oficinas. Só não entraram na sala de revelação dos negativos. Lá estavam, tremendo de medo e frio, os moços “subversivos”.

Jornal era, ainda, como as igrejas, uma espécie de consulado ou embaixada: os dois tinham um munus próprio de ser abrigo contra o arbítrio. Davam lições de prevenção de injustiças.

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