O jornalista políítico e agitador cultural Aroldo Murá informa que toda Curitiba que conta culturalmente em artes plásticas está sendo esperada para esta quinta-feira, dia 2, para a abertura da mostra de trabalhos de Juarez (Busch) Machado. O multiartista plástico se apresenta mais uma vez à cidade que o lançou, no começo dos anos 1960, quando ele para cá se mudou, vindo de Joinville. Mudou-se para estudar na Escola de Música e Belas Artes, onde balançou corações de moçoilas que se deslumbravam com aquelas marcas já salientes no artista: um certo “descompromisso” com cânones sociais, enorme abertura no trajar, |às vezes surpreendendo – para aquela época – com meias vermelhas, como também as usava um de seus melhores amigos, João Osório Brzezinski, outro ex-EMBAP.
Dinheiro curto, bolsos vazios, Juarez logo foi abraçado pelos meios artísticos de vanguarda. Para pagar pensão e ter dinheiro para se movimentar, foi trabalhar no antigo Canal 6, TV Paraná, que funcionava na Rua José Loureiro, ao lado do Diário do Paraná (ficava no 116 da J. Loureiro).
Com um forte carisma, Juarez facilmente foi conquistando espaço na emissora dos Diários Associados. Conquistou o enigmático Clemente Chen, chinês que fazia direção artística. Começou pintando cenários para os programas, uma situação hoje considerada inconcebível, diante das realidades tecnológicas. Tinha um primo seu, Jamaia, também fazendo com ele o trabalho. Um dos programas marcantes com ações de Juarez, foi o “Dreher Convida”, que Dino Almeida, Vinicius Coelho, Adalgiza Portugal e eu apresentávamos no Canal 6. Entrevistas estilo “talk show”.
Alguns fatos da vida de Juarez daqueles dias eu acompanhei de perto. Por exemplo: a primeira entrevista que ele deu a um jornalista de Curitiba foi a que fiz com ele para o Diário do Paraná. Histórica, com tiradas e análise que insinuavam o olhar crítico do moço. Como histórica, para mim, também foram dois momentos em que o artista manifestou sua amizade em forma de desenho – “Aroldo, sua Luz é vitamina”, quadro que tenho no hall de entrada. O outro foi a capa de um livreto meu sobre Radiojornalismo, que apresentei ao Curso da Jornalismo da Universidade Católica do Paraná (hoje PUC-PR).
Em 1962, se não me falha a memória, ele participou de coletiva de arte na Biblioteca Pública do Paraná com uma escultura em metal, denominada de “Gia”. Homenagem a Lígia (Gia Itiberê da Cunha), com quem foi casado em primeiras núpcias´ e da qual nasceram Ruyzinho (homenagem ao avô, Ruy Itiberê da Cunha) e Técia.
Ary Fontoura, que então já era senhor quase absoluto da audiência do Canal 6, acabou capturando Juarez como companheiro de programa de humor inteligentíssimo. Ary era o “Dr. Pomposo”, um político sem escrúpulos; Juarez, seu filho. A criação foi tão longe que Dr. Pomposo, sem nunca ter sido candidato a nada, acabou eleito deputado estadual pela força de comunicação da dupla. Por dever de justiça sou obrigado a lembrar que o programa também muito deveu a Odelair Rodrigues, com quem, mais tarde, em 1964, Ary foi parar o Rio e de lá não mais saiu.
O chargista Juarez Machado eu tive oportunidade de lançar na primeira revista corporativa de abrangência nacional, a Revista Esso, da qual fui um dos redatores. Compramos charges de Juarez que, vivendo no Rio, em 1967, ainda iniciando vida carioca (pouco conhecido), ajudou a fortalecer o inesgotável plantel de chargista que faziam – a “festa” com suas visões criticas à política dominante.
A vida nos distanciou, mas amizade é a mesma. Por isso, mantenho em privilegiado espaço de parede a homenagem que ele me fez, em 1983, com o desenho “Aroldo, sua luz é vitamina”. Salve o Juarez Machado, de cuja mostra comemorativa de sua obra participei, a pedido de seu irmão, há quatro anos, com os dois desenhos citados.