Aroldo Murá informa que enfim saíram, na sexta-feira (2), os nomes das pessoas que vão compor a Comissão de Criação e Seleção de Souvenires do Instituto Municipal de Turismo. Após muito suor e medo e alguns dias de insônia e pressão, foi formada a comissão que vai escolher os produtos da lojas #curitibasualinda, os estabelecimentos em espaços públicos da Urbs que vendem souvenires para turistas.
A criação vinha dando dor de cabeça e medo. Todas as indicações dos servidores envolvidos tiveram que passar pelo crivo da chamada primeira-dama, que se considera a dona desses espaços, curadora e responsável pela aprovação do artesanato a ser vendido. O processo de escolha de oito titulares e mais oitos suplentes teve a lente ferina e o veto, quando necessário, de dona Margarita Sansone, 78.
ELA, SEMPRE ELA
Desde a criação das lojas #curitibasualinda!, que substituíram as antigas lojas Leve Curitiba, antes administradas pelo IPCC-Instituto Pro-Cidadania de Curitiba, quem coordena diretamente as estratégias desses estabelecimentos é a chamada primeira-dama, que, em certos setores políticos e na Prefeitura, é cognominada de “Aranha Marrom”. E por uma só razão: suas “mordidas e imprecações” contra os que se lhe antepõem, não são fáceis de serem curadas.
A primeira dama, no caso dos artesanatos, se envolve com tudo: mobiliário e disposição dos mostruários das lojas, até quais produtos deverão ser adquiridos. E o preço, claro, poios em se tratando de dinheiro, poucos entendem do riscado quanto ela..
TAMBÉM A AGÊNCIA
A idosa senhora meteu-se também na escolha da agência de publicidade que fez todo o design das lojas e as logomarcas. O trabalho ficou com a empresa G-PAC, do publicitário Juca Pacheco, o profissional do marketing predileto do prefeito. Pacheco, profissional competente, é o querido dos Greca, tal como era o João Santana para os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
“RASTAQUERAS”
Quando foram criadas as lojas #curitibasualinda!, em 2018, a chamada primeira dama argumentou que essas lojas não podiam ficar nas mãos de servidores públicos “com gostos duvidosos e rastaqueras”. O prefeito Rafael Greca concordou com a posição da Aranha Marrom, e proclamou que ele mesmo estava cansado “ do artesanato pobre”, que hoje é vendido nas feiras de artesanatos espalhados pela cidade, como a do Largo da Ordem.
O alcaide que, para a média das pessoas não bem instruída da população, chega a passar até como “político muito culto”. Na verdade, é um artista da tergiversação verbal. Greca passa sua eloquência (ela lembra, assim, uma idosa mestre-escola repreendendo seus alunos), sem cerimônias.
O discurso do alcaide é todo bordado por uma cultura ornamental. Isto é: marcado por vocabulário e ritmo que impressionam os menos exigentes. Apenas. Mas é fala que não resiste a exame crítico de qualquer julgador que trabalhe dentro da lógica.
“UM NOVO PADRÃO?”
Um velho amigo de Juca Kfouri, o jornalista que cobriu as barbaridades que foram o lançamento da fracassada Nau Capitania pelo 500 anos do Brasil, na Bahia, quando Greca era ministro do Turismo, rebate a hermenêutica do discurso do alcaide dizendo:
– Será que o prefeito nunca ouviu falar em arte “naif” ou “ingênua”? Se não ouviu, trate de aprender que a chamada arte “primitiva” – presente sobremaneira em pinturas esculturas populares – é muito valorizada no mundo todo. Vale à pena ler as obras de Roberto Pontual e Adalice Araujo.
Quanto à “pobreza do artesanato”, lembro, por exemplo, ao alcaide Greca que os mais bonitos e pedagógicos presépios produzidos em países da Europa, são feitos da forma mais primitiva possível, com barro e/ou espigas e folhas de milho. Apenas um exemplo, isso para não citar o mais impressionante artesão que já tivemos, criador passarinhos e soldados da forma mais “naif” possível, anos 1980.
Ou será, ainda, que Greca nunca ouviu falar em Lafaete Rocha, com seus cristos artesanais eloquentes? Ele foi um santeiro raríssimo.
Ou, por acaso, conhece a obra de Djanira? Ou ainda, será que no meio dessa “revolução” Greca e a velha senhora não estão apenas querendo implantar o chamado “industrianato” nas feiras de artesães de Curitiba?
Industrianato é bem do gosto de gente dotada de singular cultura ornamental.
Enfim, acho que o alcaide e a chamada primeira dama não têm nada de se imiscuir num setor que não depende de intervenções danosas de gente que ainda não entendeu que o “naif” escancara a melhor proposta do artesanato.
Muita arrogância e prepotência num único minúsculo ser.