A Assembleia Legislativa do Paraná, em parceria com a Câmara Municipal de Ponta Grossa, promoveu uma audiência pública virtual para discutir a situação dos 170 quilômetros de rios urbanos de Ponta Grossa. O deputado Goura (PDT), presidente da Comissão de Ecologia, Meio Ambiente e Proteção aos Animais, representou o Legislativo Estadual.
“Temos um descaso com os rios brasileiros, em especial nos trechos urbanos. Vemos os maus tratos a que submetemos nossos rios com a política de escondê-los da vida de nossas cidades. Temos que levar este debate a todo o Paraná para conscientizar a população”, afirmou Goura. “É importante que o Poder Executivo aplique as políticas públicas já previstas em lei. É importante pensar que Ponta Grossa está quase toda dentro da bacia do Rio Iguaçu e uma parte no Rio Ribeira”, explicou o parlamentar.
Para a deputada Mabel Canto (PSC), a discussão deve fazer parte do futuro contrato de abastecimento de água de Ponta Grossa. “Precisamos discutir com a sociedade civil organizada a despoluição de nossos rios urbanos”, disse. Participaram da audiência, presidida pelo co-vereador ponta-grossense Guilherme Mazer, a vereadora Joce Canto e o vereador Geraldo Stocco.
Segundo o professor Carlos Hugo Rocha, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), o município começou a ocupação de seu território no topo de um morro e a característica geológica favorece a formação de córregos. “São mais de 25 nascentes, com cachoeiras e arroios a poucos metros do centro da cidade. Seguimos uma inércia ambiental em seu crescimento. O resultado é a degradação dos fundos de vales urbanos”, lamentou.
Para o professor, é preciso valorizar o relevo da hidrografia e trabalhar com o que sobrou da mata nativa no entorno dos córregos. “Podemos transformar estes rios em áreas valorizadas com parques lineares como o Parque Olarias, que atende a bacia do Rio Olarias”, exemplificou.
A posição é compartilhada pelo também professor da UEPG, Joel Larocca. De acordo com ele, é preciso explorar as potencialidades dos espelhos d ‘água, como o lago de Olarias. “Quando mantemos áreas de preservação permanente perdemos pouco espaço habitável. Se todos os 170 quilômetros de rios forem preservados, e criarmos um parque linear com 30 metros de cada lado em seus entornos, perdemos apenas 1.120 hectares habitáveis de área na cidade”, relatou.
“Se usarmos todo espaço, gastamos no máximo R$ 400 milhões em um orçamento de R$ 1 bilhão. Isso é permanente por 100 ou 150 anos. Se destinados 2,5% para preservação teríamos em 10 anos a melhor cidade do Brasil em termos de preservação. Cada cidadão ponta-grossense é proprietário de um metro de mata linear na cidade”, exemplificou o professor.
Já a professora da UEPG, Vanessa Igea dos Santos, falou da importância da academia no debate. “A universidade contribui no avanço da pesquisa da ação de substâncias em nanopartículas que podem estar presentes na água utilizada para abastecimento público e acarretar males à saúde das pessoas”, listou.
O ativista ambiental e empreendedor de Colombo, Diego Saldanha, apresentou no encontro o Projeto Ecobarreira do Rio Atuba, iniciado por ele em 2016. Diego falou da possibilidade da ideia ser replicada nos rios de Ponta Grossa. “É fácil, de baixo custo e tem ajudado o Rio Atuba, um formador do Rio Iguaçu”, afirmou.
O engajamento da sociedade civil organizada no debate foi pedido pelo representante do Fórum das Águas, Sergio Demichurki. “Todas as políticas públicas devem envolver as comunidades, principalmente as que habitam o entorno dos córregos que compõem os 170 quilômetros da bacia hídrica de Ponta Grossa. Temos que conectar o conhecimento da área acadêmica com o envolvimento da comunidade”.
Poder Executivo – André Luiz Pitela, secretário de Meio Ambiente de Ponta Grossa, falou das ações da prefeitura municipal, entre elas a manutenção do Parque Olaria. “Nosso lago tem presença de peixes como o lambari, o que demonstra a qualidade de suas águas. Foram implementadas, em conjunto com a Sanepar, 15 mil inspeções que interromperam ligações irregulares de esgoto nos afluentes. Do entorno do lago saem cerca de 20 toneladas de resíduos sólidos por mês em limpezas diárias da prefeitura”, listou.
Segundo Danilo Raffo, da gerência da Sanepar de Ponta Grossa, a principal captação da cidade é da bacia do Rio Pitangui. São 10 estações de tratamento em pontos da cidade. “Ponta Grossa está entre as melhores do país no ranking de tratamento. Desde 2013 a Sanepar desenvolve monitoramento e retirada de resíduos dos mananciais dos rios urbanos. Foram investidos R$ 23 milhões em obras de esgoto no município em 2020”, explicou.
De acordo com Ivan Lourenço, do Instituto de Água e Terra (IAT), o órgão do governo do Estado fiscaliza, licencia e faz a gestão das unidades de conservação da região dos Campos Gerais. Ele falou de programas como o Rio Vivo, de criação de alevinos e soltura nos arroios e rios. Também o Paraná Mais Verde, que fornece mudas nativas aos municípios cadastrados. “A meta é chegar em 2022 com 10 milhões de mudas plantadas fornecidas pelo IAT”, falou, em complemento à proposta da criação de mais parques lineares no município.
Poderia usar o potencial das águas para energia, assim como fizeram no Barigui.
Este assunto é de interesse de todas as cidades, principalmente, Curitiba. O rio cachoeira que faz divisa com almirante Tamandaré sofre pelo abandono: lixo, pneus, assoriamento, construções irregulares e despejo de esgoto.