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domingo, dezembro 22, 2024
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João Arruda diz que ‘vai e volta’ quebrou o comércio de Curitiba

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O Bem Paraná entrevistou o candidato do MDB à prefeitura de Curitiba, o ex-deputado federal João Arruda, que critica a forma como o prefeito e candidato à reeleição, Rafael Greca (DEM), conduziu a epidemia do Covid-19 na Capital paranaense. Arruda credita ao “vai e volta” dos decretos de Greca, a quebra de boa parte dos pequenos negócios e comércios da cidade no período. “Chegaram a proibir o delivery”, afirma, sobre a determinação da prefeitura, a certo momento da crise, de impedir que restaurantes e lanchonetes de shoppings fizessem entregas à domicílio. 

Em entrevista ao Bem Paraná, o candidato também condena o subsídio dado por Greca às empresas de ônibus e a terceirização dos serviços de saúde. Ele nega, ainda, qualquer relação política de sua candidatura com o sogro, o empresário Joel Malucelli, que fecharam acordo de leniência com o Ministério Público Federal (MPF), a título de reparação de danos causados por esquemas de corrupção e lavagem de dinheiro.

Bem Paraná – Se hoje fosse 1º de janeiro de 2021, e o senhor fosse o prefeito eleito, qual seria sua primeira medida?
João Arruda – É preciso fazer uma revisão de contratos e da gestão. Colocar gente qualificada, sobretudo na área social para criar uma rede de proteção para os curitibanos. Nós temos problemas históricos. É o caso da habitação, por exemplo. Em cada oito famílias, tem uma na fila da Cohab. O problema da regularização fundiária, a exemplo do que acontece hoje no rio Barigui, colocando famílias em situação de risco, e também no Caximba, mas também tem várias áreas irregulares no CIC. É preciso de um grande programa de regularização fundiária e habitação para Curitiba. Nós temos um problema sério que é da pobreza. São 2.300 moradores de rua. Esse número cresceu 200% nos últimos sete anos e nós só temos abrigo para 1.300 pessoas. A educação do município precisa ser aprimorada. E digo que não só no sentido de melhorar a qualidade do ensino. Alías o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) mostrou que houve queda. Só se faz esse aprimoramento junto com os professores. A escola precisa ser a estrutura central para as famílias, não é só para a criança. A escola no contraturno escolar, nos finais de semana, os equipamentos esportivos. E só se faz uma educação de qualidade junto com os servidores públicos. Nós temos um programa sério de desigualdade. Há bairros muito bem atendidos e outros não. E a pobreza que se reduz com um grande programa social de combate à fome. Fortalecendo os Armazéns da Família, um programa de mercados populares, sacolões. Fortalecendo através de incentivos aos produtores locais. Estamos elaborando ainda um programa de redução de impostos para as pequenas empresas. Trocar imposto por emprego. Antes da pandemia, o número de desempregados era de quase cem mil. Todos esses números foram potencializados pela crise. E nós precisamos resolver o problema já. Não dá para ficar esperando a pandemia passar. É preciso dar um passo já, para a gente segurar a economia e a geração de renda. Curitiba, a prefeitura, precisa cuidar mais dos curitibanos, das pessoas, e menos da vaidade estabelecida pelo prefeito e sua equipe. Menos massagear o ego das pessoas que estão à frente da gestão e mais cuidar das pessoas lá na ponta.

BP – O senhor foi definido candidato do MDB em cima da hora. Havia uma articulação de uma possível aliança com o PDT, do ex-prefeito Gustavo Fruet, que desistiu. Na última eleição para prefeito, o candidato do MDB teve pouco mais de 5% dos votos. Isso tudo não atrapalha a sua candidatura?
João Arruda – Na última eleição o PMDB teve um desempenho menor para prefeito de Curitiba, mas na eleição para governador eu saí de última hora e fiz 13% e quase ganhei da governadora candidata à reeleição. Aqui na Capital fiz quase 100 mil votos. Então eu acredito que nós podemos potencializar o trabalho que foi feito na última eleição, e chegar no segundo turno. Independente do nome, acho que o que vale é o projeto para a cidade. E nós escrevemos esse programa, não escrevi sozinho, mais de 300 pessoas, especialistas, arquitetos, médicos, professores, todas as pessoas que participaram da construção do programa de governo. E a gente precisava de um nome para apresentar esse projeto para a cidade. Eu não represento um partido, ou um grupo político, mas um projeto. E é isso que eu quero mostrar no processo eleitoral. Propostas viáveis, possíveis. Vou apontar erros, soluções e dizer como vamos fazer.

BP – O que o senhor acha da forma como a gestão Greca lidou com a pandemia do Covid?
João Arruda – Faltou agilidade nos decretos. Esse vai e volta é desumano. Você tratar da vida das pessoas: ‘hoje o número foi menor, então vamos abrir’. Mas as pessoas estão morrendo do mesmo jeito. ‘Agora o número foi maior, vamos fechar’. Esse vai e volta prejudicou muito a cidade. O comércio quebrou. As pessoas não sabiam como se planejar, estabelecer um plano de trabalho. Sem contar que colocou em risco muitas vidas. É preciso tomar decisões mais precisas, de uma vez só. Determinar ações e persistir na posição. Evidente que era uma coisa nova que aconteceu na cidade e era preciso construir uma posição da gestão municipal. Mas isso se faz ouvindo, principalmente. Trabalhando em parceira com os setores produtivos e os médicos infectologistas especialistas. Todos juntos encontrando soluções e monitorando. Acho que nós deixamos alguns setores como bares, restaurantes, academias em situação bastante delicada. Chegou um momento em que se proibiu por decreto o delivery. Eu entendo que era o exatamente o inverso do que deveria ser feito. Encontrar alternativas criativas para que as pessoas pudessem produzir, continuar trabalhando. O delivery é uma delas. A internet, as plataformas digitais. Eu acredito que a prefeitura que já gasta com TI (Tecnologia da Informação), contratos milionários, poderia elaborar, produzir algo para favorecer os pequenos empresários. Para dar alternativa a eles e ao mesmo tempo proteger o cidadão. Sendo que a prioridade era a higiene sanitária e o isolamento.

Bem Paraná – O próximo prefeito vai assumir ainda em um cenário de pandemia. Qual o principal desafio, considerando também as limitações orçamentárias com a queda de arrecadação.
João Arruda – A prefeitura tem que ser parceira do cidadão. Não pode abandonar o curitibano. Hoje aqui mesmo na nossa Capital – e a gente não pode ter vergonha de falar isso, porque nós somos uma cidade modelo, estamos na frente em relação a muitas capitais do Brasil – mas as pessoas estão desempregadas, passando fome. Estão nas ruas. Os alunos das escolas particulares estão migrando para as públicas. Os serviços de saúde nunca foram tão importantes. E a prefeitura, nesse momento, para dizer já, é preciso fazer pelo social. Menos para as empresas e os empresários do transporte coletivo e mais para as pessoas. Menos contratos milionários e nós questionamos os contratos da TI. Eu acredito que o grande desafio é criar uma rede de proteção social que garanta alimentação saudável, atendimento de saúde, escolas para as crianças e emprego. Com a volta das aulas, esse será o grande desafio. E nós precisamos ouvir as crianças, os pais. As crianças vão voltar a conviver com outras crianças e a gente vai ter que aprender, com a crise, a fazer uma educação diferente. A gente quer trabalhar em parceria com os professores, servidores. Ter um laboratório de inovação, capacitação, para auxiliar com soluções tecnológicas o ensino. E ao mesmo tempo integrar a educação na escola, ampliarmos progressivamente o ensino integral, mas integrarmos a escola com os parques, os equipamentos esportivos dos bairros. Precisam de uma integração maior com a cidade.

TRANSPORTE
‘Prefeito não pode virar sócio de concessionárias’

Bem Paraná – O que o senhor acha do subsídio da gestão Greca para as empresas do transporte coletivo, que deve chegar a R$ 180 milhões até o final do ano?
João Arruda – A prefeitura e o prefeito não podem virar sócios de uma empresa privada que presta um serviço de concessão. A gente tem que mudar a cada seis meses ou a cada ano as regras do contrato? Se as empresas estão insatisfeitas, vamos rever o contrato e fazer uma nova concorrência. Só que esse contrato vai vencer e aí a gente tem que inserir o que quer. Estou estudando com a minha equipe a possibilidade de redução do preço da passagem. Ainda não vou adiantar porque não tenho todos os dados, mas é possível reduzir e principalmente, inserir no contrato do transporte coletivo a integração do ônibus com a região metropolitana. Bem como rever esse modelo de tranporte que nós temos. Curitiba está pronta. Nós temos que rever algumas rotas, integrar os bairros com a RMC. E quande eu falo de transporte público de ônibus, eu falo de serviços públicos, comércio, zoneamento, para que a gente tenha mais autonomia nos bairros. A pandemia também nos ensinou isso. As aglomerações não são saudáveis. Você ter uma cidade do tamanho de Curitiba e concentar tudo na região central, além de prejudicar as pessoas que moram nos bairros também prejudica a vida das pessoas que moram no Centro. O trânsito, tudo se torna mais complicado. Precisamos criar novas culturas, quebrar rotinas. Morar perto de onde trabalhq, ter condições de acesso com a bicicleta, as calçadas, a caminhada. Poder frequentar uma praça, um parque e alimentação saudável. A gente vai ter que promover saúde, não apenas ter uma rede sólida básica de saúde.

BP – O prefeito assume em janeiro e já em fevereiro tem o reajuste dos salários dos motoristas e cobradores e da tarifa. Como administrar isso levando em conta o pouco tempo?
João Arruda – Não adianta a gente analisar pontualmente o reajuste de alguns trabalhadores do transporte coletivo. Precisa analisar o contrato como um todo. Eu ouço as empresas de transporte coletivo da cidade reclamando há 40 anos que o contrato não é lucrativo. E ao mesmo tempo, vem subsídio do governo do Estado, do municipal. Acho que eles têm que provar isso. E até agora eu não fui convencido. Nós temos estudos de impacto financeiro e entendemos que é possível, inclusive reduzir o preço da passagem. O transporte não é ruim, mas nós temos veículos mais velhos que poderiam estar em melhores condições. Eu imagino um painel digital em cada ponto de ônibus protegido. A gente faz isso com comida, com uber, com táxi. Porque as pessoas não podem saber que hora que ônibus vai chegar e acompanhar seu ônibus através de um painel digital. A gente precisa abrir os contratos dando condição ao cidadão acompanhar quantos ônibus têm, em que condições, se tem internet. É só assim que vai ter uma participação efetiva da sociedade.

BP – A atual gestão tem promovido a terceirização dos serviços de saúde. O senhor pretende manter essa política ou revê-la?
João Arruda – Nós vamos rever essa política. A terceirização – e o grande argumento de quem terceiriza é que se gasta menos. As empresas que assumem o serviço estão interessadas no lucro do final do mês, e não em prestar um bom serviço. Quero investir nos nossos quadros, médicos, fazer concurso. Fazer um banco para contratações temporárias no caso de pandemias sazonais. Investir em tecnologia, telessaúde, equipamentos de proteção dos profissionais. Em reestruturação, integrar bem, revisar a gestão desses 111 postos de saúde que temos e 9 unidades 24 horas. Integrar e fazer funcionar bem. A terceirização pode ser até mais barata em alguns casos, porque eles não estão contratando profissionais qualificados. E a Unidade de Pronto Atendimento mais grave ainda. Você tem leitos de emergência que precisam ser administrados e pessoas que não têm a qualificação necessária para assumir a responsabilidade. Não sou radicalmente contra parcerias-público-privadas. Nós podemos fazer. Mas no caso da educação e da saúde, de jeito nenhum. Nós precisamos ter o controle da saúde pública, do atendimento. Em São Paulo, as terceirizações, eles tinham metas, tinham que prestar um número de atendimentos por dia. Quando eles terminavam, chegavam no teto, eles fechavam, não tinha mais atendimento. Isso acontecia nos hospitais. É um modelo que não funciona. Nós precisamos colocar essas estruturas para funcionar.

J.MALUCELLI
‘Não tenho relação com empresas’

Bem Paraná – As empresas de seu sogro, Joel Malucelli, fecharam acordo de leniência com o Ministério Público Federal. Consta que ele também estaria negociando um acordo de delação premiada. Preocupa de alguma forma que isso possa ser relacionado e prejudicar a sua campanha?
João Arruda – O conhecimento que eu tenho disso é de que ele está se defendendo na Justiça. A minha relação com o meu sogro é uma relação de muito carinho, com o avô dos meus filhos, o pai da Paola. Amizade, respeito, consideração, assim como imagino que ele tem por mim também. Não tenho nenhuma relação com as empresas do meu sogro, assim como ele nunca interferiu na minha forma de fazer política, nunca foi do meu partido. Pelo contrário, já chegou a disputar a eleição como suplente de um candidato de outro partido e eu apoiei o candidato do meu partido. Não existe qualquer possibilidade de interferência em uma atuação política administrativa pública. Portanto, a gente tem que saber separar as coisas. Não existe nenhuma preocupação tendo em vista que ele está respondendo na Justiça, está sendo investigado e não tenho dúvida que está à disposição para prestar todos os esclarecimentos necessários. Agora sobre especificamente esse caso de colaboração e da forma como ele está conduzindo isso juridicamente, eu nem tenho conhecimento e nem quero saber. O que eu quero do meu sogro que ele continue sendo um bom pai para a Paola e um bom avô para os meus filhos. E um bom sogro.

BP – Nas eleições de 2018, a onda Bolsonaro acabou polarizando o País. As forças políticas de centro acabaram sendo prejudicadas, inclusive o MDB. O senhor acha que essa polarização deve se repetir esse ano, ou ela vai refluir?
João Arruda – Se nós analisarmos a história, essas ondas que acontecem no processo eleitoral, isso ocorreu não só com o Bolsonaro, ocorreu com o Lula também. Mas elas acontecem de vinte em vinte anos, elas não se repetem a cada eleição. Acho que o momento é completamente diferente. As pessoas estão com medo, não sabem se terão o salário no final do mês, não sabem se vão sobreviver, se serão infectadas pelo Covid. A situação é muito grave e vão procurar uma pessoa que possa trabalhar aqui na cidade, solução para problemas antigos que foram potencializados pela crise. Acho que é isso que vão buscar no prefeito. Essa polarização, esse enfrentamento entre dois extremos, além de ser desnecessário, não faço política assim, sou muito moderado, é claro que tenho posições firmes, mas procuro sempre o equilíbrio e o diálogo. Se essa radicalização continuar no processo eleitoral, espero que isso não aconteça. A continuidade disso é durante o exercício do mandato, e daí é ruim para todo mundo.

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