Isloany Machado conta na revista eletrônica Curitiba Suburbana que na semana passada um político de Campo Grande (Mato Grosso) justificou a abertura dos salões de beleza com o argumento de que os homens não suportariam as mulheres sem depilação, unha feita e etc. Fiquei apavorada pois, ainda que não tenha nenhum homem dentro de casa me ameaçando, de vez em quando eu preciso ir à rua. Então, me apressei em comprar luvas e máscaras, não tanto pelo medo de morrer de coronavírus, mas pelo medo de evocar a fúria assassina dos homens (ao menos os daqui da minha cidade), já que minhas unhas estavam sendo engolidas pelas cutículas e eu já estou com o bigode do Saddam Hussein.
De qualquer modo, com muito tempo livre, decidi que faria minhas próprias unhas em casa. Encomendei alicate, espátula de uma loja de cosméticos local, já que fui consultar o preço nas lojas americanas para pedir pela internet e só o frete me custaria mais de cinquenta reais, além da demora de aproximadamente quinze dias para chegar, até lá eu estaria inteira encapsulada pelas cutículas. Demorei bastante tempo (tipo umas duas horas), mas consegui tirar todas as cutículas de cada uma das dez unhas. Como fiz bem devagar, não tirei nenhum bife, mas isso é só uma questão de tempo até que eu pegue um excesso de confiança. Feito isso, fui lavar a louça e algo bem estranho aconteceu: as cutículas tinham crescido de novo.
Fiquei na dúvida se não havia feito direito ou se havia sido engolida por algum lapso temporal, vai saber, o tempo anda meio estranho. Além disso, depois de comprar máscaras às pressas, sem pedir indicação nenhuma, resolvi ir ao supermercado usando uma delas. Minhas orelhas ficaram meio dobradas, mas tudo bem, joguei o cabelo por cima para esconder.
Na metade da compra, eu comecei a sentir calafrios no corpo inteiro. Coronavírus? Pensei. Mas reparei que era por causa da dor nas orelhas. Aguentei firme. Quando já estava chegando no caixa, minha orelha esquerda desistiu. Ela simplesmente se recusava a parar no lugar, dobrou-se completamente após adquirir a consistência de uma gelatina.
Não houve remédio, tive que tirar a máscara. Tentando parecer normal, comentei com a moça do caixa: – Nossa, isso incomoda, né? Que saco, parece que estamos numa guerra. Estamos numa guerra, na verdade (falei, quase que para mim mesma). E ela, que não usava máscara, me disse em tom de reprimenda: – Mas nós estamos numa guerra, moça! Nem todo inimigo usa arma de fogo.
Quase chorei pela sábia elucubração da moça, mas, na verdade, a vontade de chorar era de dor na orelha. Sobrevivi à todos os homens que estavam no supermercado, pois segurei a máscara para esconder meu bigode e saí correndo em direção ao carro. No campo da culinária não ando me esforçando muito.
Esses dias me mandaram links de dicas para aprender a cozinhar, mas me recuso porque vai que eu fico muito boa nisso? Eu já engordo comendo minha comida ruim, imagina se aprendo a fazer a melhor macarronada ou o melhor risoto da galáxia?
No quesito atividade física, meus amigos me sugerem yoga e taichi (nem sei como escreve isso), mas continuo mantendo a rotina de exercícios que já tinha antes da quarentena: não faço nem alongamento, só assim me sinto mais normal.
Quanto ao homeschooling, agora a school do Adriano cismou que tenho que ensinar inglês para ele em casa. Estou ensinando tudo que aprendi durante toda a minha vida escolar sobre o verbo TO BE.
Semana passada tinha uma tarefa que era para fazer um suco de alguma fruta no liquidificador, mas o meu queimou tem mais de ano e não comprei outro. Coloquei na lista de coisas para encomendar nas lojas americanas.
Todos os dias após o trabalho faço um drink com Rum, que é a única bebida alcoólica que tenho em casa no momento. Eu não sei o que está acontecendo, mas eu tomo TODOS OS DIAS e a garrafa está sempre cheia.
Pode ser o milagre da multiplicação ou da transformação da água em Rum. Adiciono coca-cola e limão, e tudo se transforma em Cuba Libre. Pode ser que eu termine a quarentena alcoolista e desenvolva osteoporose futuramente. Fiz um curso on-line de como cortar cabelo de guri, na verdade assisti um vídeo de dezessete minutos no youtube e, junto com o alicate e a espátula comprei também uma tesoura de cabelo (profissional). No final de semana o Adriano que me aguarde.
Quanto às necessidades vitais para evitar ser assassinada, não sei o que fazer com meu bigode ainda. Talvez eu me inscreva num curso EAD de como arrancar meus próprios pelos. Se for para seguir viva, vai que vale a pena?
Será? Tem gente que gosta de mulher com cheiro de peixe podre
Raspa esse bigode sua nojenta, que negócio bizarro esse bigode credo. hahaha