A Frente Parlamentar de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Síndrome de Down e Transtorno do Espectro Autista da Assembleia Legislativa do Paraná realizou nesta quarta-feira (27) uma audiência pública sobre a importância do diagnóstico e intervenção precoce do autismo. Com a presença de especialistas nas áreas da saúde e educação, além de diversas lideranças preocupadas com o tema, a audiência serviu para alertar as autoridades sobre a necessidade de intervenção logo que a doença é detectada, para que as crianças com transtornos, possam ter garantido um desenvolvimento adequado.
Atualmente no Brasil estima-se que pelo menos uma a cada 30 crianças, nasça com autismo. Os motivos ainda são desconhecidos, a criança, nos primeiros anos de vida, apresenta problemas de comunicação e interação com as outras pessoas, além de comportamentos repetitivos.
O jovem Guilherme Becker Lima, que é portador de autismo, emocionou todos os participantes da audiência, pedindo atenção não só das autoridades, mas de toda a população. “Queremos leis para que possamos nos encaixar no mundo que todos vivem. Não queremos ser limitados, apenas queremos um tratamento sem preconceito”.
A Defensoria Pública do Paraná também esteve presente na audiência, com o coordenador do Núcleo Especializado da Infância e Juventude, Fernando Redede.
Segundo ele é necessário contribuir para a construção de novas políticas públicas específicas. “Este tipo de debate é essencial para que possamos chegar a resultados verdadeiros. Hoje temos muita procura de pacientes que estão em busca de saúde integrada à escola, ao desenvolvimento, para vagas em escolas especiais como APAES e muitas outras. O que marca muito é que quando existe um protagonismo das famílias envolvidas, que cobram em conjunto, este serviço acaba sendo mais efetivo”.
Uma apresentação com detalhes sobre autismo foi realizada pela diretora da Escola Alternativa/Modalidade Especial, conveniada com a Secretaria estadual e municipal de Educação, Juliana Paula Mendes, que falou também sobre a importância do diagnóstico para que o tratamento aconteça individualizado. “O diagnóstico precoce é muito fácil de ser realizado, todo mundo pode fazer e é de fácil acesso. Não podemos comparar uma criança com a outra, o que temos é uma classificação de desenvolvimento que podemos analisar se a criança está dentro dos limites do desenvolvimento natural da criança”. Juliana ainda lembrou que existe possibilidade de crianças com autismo ter um desenvolvimento normal junto com as outras crianças. “Existem métodos para que isso ocorra, mas precisamos da ciência correta, dos métodos adequados para que essa criança se desenvolva”.
“Estamos em um país que tem muitos direitos para as pessoas que possuem alguma deficiência, e isso é verdade, agora estamos na fase de concretizá-los, e essa concretização passa por todos os pilares, pelo Legislativo, muitas vezes com apoio ou emendas parlamentares para as entidades, pela sociedade civil organizada, pelo protagonismo juvenil e sua família, pela escola e também pelos profissionais. É um esforço conjunto para que possamos vivenciar esta concretização de direitos”, disse a fundadora do Instituto ICO Project e coordenadora nacional do programa de treinamento de pais da Organização Mundial da Saúde (OMS), Elyse Matos.
Cientificamente o autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento, que acomete dois grandes grupos do desenvolvimento humano, sendo eles; déficits persistentes de comunicação e na interação social e atraso, além de diferentes padrões de comportamento restritos ou repetitivos, nas atividades e interesses.
Márcio Oliveira, supervisor técnico do ICO Project Centro de Desenvolvimento em Curitiba lembrou que a Educação Física é uma ferramenta de inclusão, podendo ser um grande aliado para o tratamento dos portadores de autismo. “No ambiente de ensino do esporte, conseguimos focar não no desenvolvimento motor, mais sim no desenvolvimento social em conjunto com o motor”.
A formação de professores para atuar com os alunos também foi debatida durante a audiência. A diretora do departamento de Inclusão e Atendimento Educacional Especializado da Prefeitura de Curitiba, Gislaine Coimbra Budel, falou sobre as dificuldades enfrentadas e dos projetos em andamento para capacitação dos profissionais. “Investimos fortemente em nossos professores para que eles saibam como lidar com estes alunos dentro de sala de aula e em todos os ambientes escolares. Essas formações são contínuas, frequentes, semanais e com uma carga horária extensa de fevereiro a dezembro, porque entendemos que esta é uma das bases que fortalece a qualidade do ensino para a criança”, disse. Atualmente a Prefeitura atende em Curitiba, na rede municipal de ensino, 2.721 alunos com autismo, sendo 2.456 no ensino fundamental, 110 em classes especiais e outros 155 em escolas especiais.
Segundo levantamento da Secretaria de Justiça, Família e Trabalho no Paraná (SEJUF) atualmente existem 6 mil cadastros de pessoas diagnosticadas com autismo no estado. Em todo o Paraná são 107 Conselhos Municipais dos Direitos da Pessoa com Deficiência e a meta é chegar com pelo menos 200 até o final de 2023. “O conselho municipal é importante por que garante governabilidade e controle social. Um conselho bem conduzido impacta diretamente em política pública”, afirmou Quelen Silveira Coden, diretora de desenvolvimento social e trabalho da SEJUF.