Um dos nossos melhores jornalistas políticos, Aroldo Murá, também tem conexões na literatura e na música, e esta semana ele publicou uma notícia quente, a instituição da literatura paranaense, Dalton Trevisan, quer vender a casa dele na Ubaldino do Amaral.
Aroldo Murá explica que quando os pais de Dalton Trevisan, 97 anos, completados no dia 14 de junho, o registraram, fizeram-no com uma certa inovação: o bebê recebeu o nome de Dalton Jérson Trevisan, cidadão curitibano de 1925. O esperável seria Gerson, mais comum no “brasileiro” do nome de origem inglês. Mas Dalton nunca se preocupou com esse diferencial.
MEU LAR, MINHA CASA
Foi ali naquela casa do Alto da Glória, entre as vizinhas as preces da Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e a torcida por vozes iconoclásticas do estádio dos coxas, o Couto Pereira, que ele foi se projetando como o mais importante contista brasileiro. Começou a escrever na revista Joaquim, nos anos 1950, e depois no suplemento Singra, que circulava encartado em jornais.
É possivelmente o mais arredio dos escritores a contatos festivos ou não. A tal ponto que, premiado com o Camões de Literatura, em 2012, dado por Portugal, não foi recebê-lo: mandou um representante. Situação que apenas confirma uma das marcas mais visíveis nesse que, na média de avaliadores do campo literário indicam hoje como o mais importante da literatura brasileira.
Dalton é o senhor absoluto do conto, com momentos “imortais”, a partir de “Novelas Nada Exemplares” e “O Vampiro de Curitiba”, livros indispensáveis para quem quiser entender o ethos de Dalton; e também decodificar o universo das suas indagações, e a fauna humana que o preenche.
Os mistérios e as esquisitices de uma Curitiba já modificada pelo tempo, talvez não mais componham o dia a dia de Dalton, que quer vender a histórica casa. Seus pais, descendentes de italianos, uma segunda geração de brasileiros, foram pessoas de recursos financeiros.
A CHAMINÉ DA EMILIANO
Os mais antigos se lembram que uma das áreas mais valorizadas do Centro de Curitiba era aquela da Rua Emiliano Perneta, de uma fábrica de refratários. A enorme e alta – muito alto – a chaminé compôs um cenário único da cidade. Lá Dalton e o irmão Hilton (que foi diretor do antigo Badep e de uma montadora de carros) devem ter brincado, quando crianças.
Dalton tem uma filha, e boa relação com ela e as netas. Preferiu, talvez até por conselho dela, mudar-se para um apartamento na Rua Dr. Muricy. Mas nada indica que a esta altura da vida, vá mudar seu estilo, o de “espião” de uma sociedade que ele ajudou a revelar nacionalmente.
Cidade marcada por contradições de seu povo, resultados de heranças étnicas únicas… Trata-se de uma Curitiba, cujas mudanças urbanas que ele nunca, aceitou. Coisas da urbe que, por anos, atormentou o “Vampiro”, molestado por ”entes” como a Igreja dos Irmãos Menonitas, que, defronte à sua casa, faziam algazarra buscando almas, além de atendimentos sociais/pastorais.
NO ESTADÃO, ERRO
Curiosamente, o jornal O Estado de S. Paulo, na semana, fez uma reportagem, em que a igreja em questão foi nominada de ‘Igreja Menocita’, inexistente, e sem nada a ver com a histórica Igreja dos Irmãos Menonitas. Confusão que, acredito, não merecerá desmentidos de Dalton. Como também nunca se importou com fake news espalhadas entre jornalista, de que namoraria uma mocinha de 20 anos. Eu mesmo cheguei a registrar O “fato”.
O suposto namoro não tem nenhum fundamento, me assegurou uma da meia dúzia de pessoas que priva de sua companhia. Gente que, como o tradutor Roberto Muggiatti, seu velho amigo, que, quando recebido na casa de Dalton, é atendido em pé. Mesmo para dar uma entrevista (exceção que fez ao colaborador do Estadão) de uma hora. Sem oferecer água e/ou cafezinho, um modo de ser do monumental escritor, especialista em radiografar a alma mais esquisita de suas personagens.
Meu escritor predileto