Durante 50 anos, Haroldo Leon Peres foi acusado de pedir propina ao empresário Cecílio do Rego Almeida. Esta versão ganhou as páginas da revista “Veja” em dezembro de 1971 e nunca foi um episódio totalmente esclarecido pelos personagens – o governador do Paraná à época e o empresário Cecílio do Rego Almeida, – permanecendo como verdade.
O livro “1971 – Conspiração, conflitos e corrupção: a queda de Haroldo Leon Peres”, do historiador Jair Elias e do jornalista Jean Luiz Féder, revela que Haroldo Leon Peres jamais pediu propina ou foi gravado na praia de Copacabana, em 30 de outubro de 1971. Ele agiu com intermediários.
Para comprovar esse fato, os autores da obra tiveram acesso a uma farta documentação da Operação Erva-Mate, montada pelo Serviço Nacional de Informações (SNI). Esses documentos permaneceram como “documentos sigilosos” durante quase cinco décadas.
Haroldo Leon Peres – o primeiro governador indicado pelo Regime Militar para o Paraná – assumiu o cargo em março de 1971, em meio a brigas políticas com seu antecessor, Paulo Pimentel. 45 dias após a posse, numa solenidade no Palácio do Planalto, o presidente Emílio Médici, que havia então indicado Leon Peres, fez uma dura advertência ao governador Leon Peres, que as brigas estavam “incomodando” a imagem dos militares no poder.
Nos meses seguintes, Leon Peres se envolveu em conflitos com o Tribunal de Justiça e com os órgãos de comunicação do grupo liderado por Paulo Pimentel.
Em agosto de 1971, seu irmão, Murillo Leon Peres, foi demitido do Escritório de Representação do Paraná na Guanabara, após cobrar propinas da Serete e a CR Almeida, empresas interessadas nas obras da Estrada de Ferro Central do Paraná. Mas deu errado, o dono da Serete levou o caso ao conhecimento do general Ayrton Tourinho para averiguar os fatos. Dias depois, pressionado pelos militares, Leon Peres demitiu o irmão.
Dois meses depois, em 27 de outubro de 1971, Jerônimo Thomé da Silva, chefe de Gabinete do governador, convidou Cecílio do Rego Almeida para uma conversa em sua residência. Era uma nova tentativa de extorsão. Cecílio no dia seguinte viajou a Brasília e informou sobre o novo “achaque” ao Serviço Nacional de Informações (SNI). A partir das informações feitas por escrito pelo empreiteiro, o SNI montou a operação Erva-Mate para seguir os passos de todos os envolvidos, fotografando-os e fazendo escutas telefônicas. Era o início do fim do governo Leon Peres.
O episódio nunca definitivamente esclarecido se deu num encontro, na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, em frente do Copacabana Palace Hotel. Uma versão, agora desmascarada pelo livro, dizia que Leon Peres e Cecílio caminharam e conversaram na praia, com Cecílio gravando a conversa com um gravador escondido num maço de cigarro. Não foi assim.
Leon Peres, Cecílio e Jerônimo conversaram por poucos minutos próximos ao hotel sendo observados, à distância, por um agente do SNI que se passava como empresário e parceiro de Cecílio interessado na construção da estrada de ferro. Esta conversa não foi gravada e sim descrita em relatório pelo SNI, conteúdo relevado pelo livro.
Com a liberação dos documentos confidenciais do SNI pelo Arquivo Nacional, e publicados no livro de Jair Elias e Jean Luiz Féder, mostram, 50 anos depois, que não houve a suposta gravação da conversa em que Leon Peres pediu 1 milhão de dólares ao empreiteiro Cecílio do Rego Almeida. Toda a história, com um pente-fino no ano de 1971 está no livro de 650 páginas à venda neste link https://www.livrariascuritiba.com.br/1971-conspiracao-conflitos-e-corrupcao-lv482250/p