Quantas pessoas gays, lésbicas e trans vivem nas cidades do Paraná?

O portal LivreJor publicou esta semana que “quando o Estado brasileiro nega o Censo [à população LGBTQIA+], nega a nossa existência. E se nega nossa existência, é preconceituoso”, afirma Lucas Siqueira, diretor de atendimento do Grupo Dignidade. Ele se refere à ausência de perguntas sobre orientação sexual e expressão de gênero no Censo que, agora, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) fará em 2022. Diante desse apagão de dados, a solução encontrada pelos movimentos sociais é aplicar a Escala Kinsey, desenvolvida por um pesquisador norteamericano em 1947.

A Escala Kinsey de sexualidade pode ser simplificada assim: 10% dos homens são gays e 6% das mulheres são lésbicas, sendo que recentemente convencionou-se que 0,5% da população é trans ou travesti. “Apesar de ser uma pesquisa muito antiga, que nos dias de hoje deve apresentar diferenças, ainda é um dos poucos referenciais que nós temos”, confirma Lucas Siqueira, que, na pandemia, viu aumentar os pedidos por ajuda jurídica e psicológica no Grupo Dignidade.

Neste mês de junho, mundialmente dedicado ao Orgulho LGBTQIA+, a agência Livre.jor aplicou a Escala Kinsey à estimativa do Ministério da Saúde para a população das cidades do Paraná, segmentadas por sexo, para estimar e dar visibilidade à população. “Com pesquisas atuais, os números devem ser diferentes”, reconhece o diretor do Grupo Dignidade, “mas como vamos construir políticas públicas sem dados, sem conhecer a população LGBTQIA+?”.

Aplicando a Escala Kinsey aos números do Ministério da Saúde, estima-se que viveriam, hoje, no Paraná, 973 mil pessoas da população LGBTQIA+. Seriam 564 mil homens gays, 352 mulheres lésbicas e 57 mil pessoas trans – o equivalente, arredondando para baixo, a 8% da população do estado. Na capital, seriam 163 mil pessoas, que, por conta da cultura de invisibilidade e de preconceito, parecem sequer existir. Um caminho para reverter isso seria a representação política, mas até aí o desconhecimento atrapalha.

“Baseando na Escala Kinsey, seria um grande eleitorado. Mas assim como em toda a sociedade, a comunidade LGBTQIA+ sofre com a falta de educação política, de educação cidadã. É preciso mostrar como é importante ter representantes. E o papel do movimento, dia após dia, ano após ano, é fazer esse trabalho de base comunitária”, reconhece Lucas Siqueira, que foi candidato a vereador em Curitiba na última eleição e, com 1.959 votos, tornou-se primeiro suplente do PSB.

Siqueira lembra que o mês de junho ser dedicado ao Orgulho LGBTQIA+ é uma alusão ao Dia de Stonewall, quando, em 28 de junho, “pela primeira vez a população LGBTQIA+ se revoltou contra o preconceito da polícia. A luta contra o preconceito é todos os dias, mas temos um dia para lembrar a sociedade dos nossos direitos e da nossa existência”. Confira, abaixo, a aplicação da Escala Kinsey aos municípios do Paraná, em ordem decrescente de população total.

*Estimativas preliminares elaboradas pelo Ministério da Saúde/SVS/DASNT/CGIAE