O primeiro ano de “Às vezes, aos domingos”, projeto que dá visibilidade a autores paranaenses durante a pandemia, será celebrado por meio de um encontro com Luísa Cristina dos Santos Fontes e Maureen Miranda em 25 de julho, a partir das 17 horas, no Instagram @maureen_miranda. Seguindo o modelo da proposta criada por Guido Viaro e Marcio Renato dos Santos, elas vão se entrevistar, sem mediador, e ler textos autorais.
Até junho, Maureen e Luísa não se conheciam e, desde então, passaram a dialogar – virtualmente – a partir do convite que receberam para participar do encontro literário.
Luísa Cristina dos Santos Fontes está animada para a live. “Absolutamente sem roteiro e ao vivo, o bate-papo poderá seguir trilhas inusitadas, autênticas, surpreendentes, imprevisíveis. O público vai se surpreender e nós também. É desafiador”, comenta.
“Acho superdesafiador. A Luísa e eu estamos em contato, conversando e lendo o trabalho uma da outra. Vamos nos divertir e ao mesmo tempo falar sobre a potência do ser humano, algo que a literatura pode oferecer”, diz Maureen Miranda.
“Não por acaso, convidamos duas autoras para celebrar a edição de 1 ano. Evidentemente queremos dar foco, e não apenas nessa edição, mas no projeto como um todo, a vozes femininas, além de autores pouco badalados, mas com obras impactantes”, dizem os curadores da proposta que tem apoio da Soma de Ideias, Coalhada Artesanal Preciosa e Tulipas Negras Editora.
Viagens, pesquisas
Paranaense de Pato Branco, Maureen Miranda é mais conhecida como atriz: faz teatro há três décadas, aos 18 ela se profissionalizou. Integrou a Companhia Brasileira de Teatro e a partir de 1995 fez parte da Sutil Companhia de Teatro, que se encerrou as atividades em 2014. Posteriormente fundou a sua própria companhia, a Clepsidra, por meio da qual dirigiu três peças autorais: “Os 3 Espelhos”, “Não assim tão longe” e “Algum lugar nenhum”.
Maureen Miranda também começou a escrever há 30 anos. “Comecei a escrever quando tinha 15 anos, tenho o caderno até hoje. Escrevi poemas e um diário, mas nada que achasse bom. Então, passei a escolher trechos de livros que lia e transcrevê-los nesse meu caderno”, conta a artista que divide o seu tempo entre o Rio de Janeiro e Curitiba.
Já Luísa Cristina dos Santos Fontes nasceu em Barra do Piraí (Rio de Janeiro) e desde a infância vive em Ponta Grossa, onde atuou como professora no curso de Letras da UEPG até se aposentar. Na década de 1990, a convite de Zahidé Lupinacci Muzart (1939-2015), da UFSC, passou a estudar vozes femininas na literatura, o que resultou em 6 capítulos da obra Escritoras Brasileiras do Século XIX.
“Até hoje, o que produzo é consequência dessa iniciação. Foram muitas leituras teóricas, encontros do grupo de pesquisa, viagens em busca de informações. De certa forma, por causa dessa pesquisa (ininterrupta) é que estou aqui”, afirma a estudiosa.
Intensidade
Além da produção teórica, Luísa Cristina dos Santos Fontes afirma que, logo que começou a se sentir mais segura na produção poética, inscreveu-se em concursos, talvez até em busca de uma avaliação isenta. Participou das primeiras edições do Concurso Nacional de Poesia Helena Kolody, instituído na segunda metade da década de 1980 pela Secretaria de Estado da Cultura do Paraná por meio do jurista René Ariel Dotti, o então Secretário da Cultura – a jornalista Regina Benitez organizou as primeiras edições.
“Fui premiada em duas das primeiras edições. Além da placa de prata, ganhávamos a publicação dos textos no livro Os Poetas – Antologia de Poetas Contemporâneos do Paraná. A Regina Benitez era a Chefe do Setor de Editoração da SEEC, e as edições, esmeradas”, diz Luísa, acrescentando que o que mais a agradou foi receber o prêmio das mãos da própria Helena Kolody.
Maureen Miranda conta que nunca trabalhou tanto desde que a pandemia teve início. Participou de curtas-metragens autorais, “com roteiros meus”, escreveu e finalizou narrativas, leu 42 livros, pintou 91 quadros, fez 3 cursos, está cantando diariamente, além de participações em 3 projetos da Rede Globo: interpretou uma freira em Desalma, atuou em alguns capítulos de Um lugar ao sol, a próxima novela das nove, e em Central de Bicos, programa de comédia que estreia em breve no Multishow.
Ela também está escrevendo narrativas, assunto que deve ser comentado durante a live, da mesma maneira que Luísa Cristina dos Santos Fontes vai falar durante o encontro sobre a sua decisão de disputar uma das vagas da Academia Paranaense de Letras.
Vitrine virtual
Em 2019, Guido Viaro e Marcio Renato dos Santos dialogavam sobre a necessidade de criar um projeto para dar voz e palco a autores paranaenses, algo que não existia até então – havia leituras públicas, mas eles ambicionavam uma proposta mais ampla, incluindo a possibilidade de conversa dos autores entre si e com o público. O evento, a dupla planejava, poderia acontecer em uma sala, auditório ou em um teatro de Curitiba.
2019 acabou, veio 2020 e a pandemia.
Evidentemente, não foi possível promover encontros presenciais. Eles optaram por bate-papos on-line, especificamente, no Instagram.
“Poderíamos realizar o evento pelo Zoom ou em um canal de YouTube, mas nossa opção foi pelo Instagram de um dos autores de cada encontro. Por quê? Para divulgar o autor e o seu Instagram”, comentam os curadores do projeto “Às vezes, aos domingos”, que teve a sua primeira edição em julho de 2020.
Uma das metas, já colocada em prática durante 14 edições, é evitar a chamada “ação entre amigos”, prática que é quase regra, e que consiste em envolver apenas brothers & sisters em projetos culturais. “Às vezes, aos domingos” tem a meta de ser plural, inclusivo e, para comprovar isso basta conferir os nomes dos mais de 20 escritores, das variadas regiões do Estado, que já participaram da iniciativa: Oscar Nakasato, Salma Ferraz, Otto Leopoldo Winck, Jaqueline Conte, Paulo Venturelli, Daiana Pasquim, Luiz Felipe Leprevost, Andréia Carvalho Gavita, Carlos Machado, Francine Cruz, Roberto Nicolato, Etel Frota, Alexandre Gaioto, Jô Bibas, Alvaro Posselt e Marianna Camargo.
Mais informações em tulipasnegraseditora.blogspot.com