Vamos desenhar uma linha do tempo. Na segunda-feira (28), a Prefeitura de Curitiba alegou falta de doses e interrompeu a vacinação contra a Covid-19 na população em geral e repescagens. Na terça (29), suspende também a imunização dos caminhoneiros, justificado por um “repasse insuficiente” para o grupo prioritário – e seguiu vacinando apenas trabalhadores do transporte coletivo, ferroviário e pessoas em situação de rua.
Na quarta (30) de manhã, a Secretaria Estadual de Saúde anunciou a chegada de 361.490 novas doses de vacina para o Paraná – parte chegando no mesmo dia e parte nesta quinta (1º).
No entanto, muito antes de receber sua cota dessas doses – que serão distribuídas para a RMC só a partir da tarde desta quinta -, Curitiba anunciou a retomada da vacinação em duas faixas etárias (46 e 47 anos). A abertura é muito nobre, mas os motivos são estranhos.
Ao anunciar a suspensão, a prefeitura afirmou em publicação no seu site oficial: “A retomada da imunização dos caminhoneiros, assim como dos demais públicos prioritários suspensos e da população geral (por idade), depende de chegada de nova remessa de vacinas”. A mensagem é clara: sem novas doses, não há vacinação.
No entanto, não foi isso que aconteceu. A prefeitura retomou a imunização de um grupo com população expressiva com um estoque que, segundo o anunciado, era de apenas 1.654 doses disponíveis, mesmo sem ter recebido esse novo lote porque toda a nova remessa anunciada pelo Estado ainda está no Centro de Medicamentos do Paraná (Cemepar) sendo organizada para o envio aos municípios.
A secretaria municipal deu um tiro no pé na sua estratégia de reclamar injustiças na divisão e demonstra que está, sim, segurando doses. Ou de onde surgiram essas? Mesmo se fosse a imunização estocada para segunda aplicação, há diversas semanas o Paraná recebe novas doses periodicamente, com um calendário que tem proporcionado aumento das faixas etárias.
Além da retomada, a prefeitura também afirma que deve abrir mais dez pontos de vacinação na cidade no final de semana e diz que “a ampliação dependerá da quantidade de doses que a capital receberá do Governo do Estado”. Parece que não depende apenas do Estado, não é?
Mais transparência seria bem-vinda em um momento em que a imunização é a única luz no fim desse imenso túnel de pandemia.