Cláudio Osti conta no Paçoca com Cebola que cansada de esperar uma explicação plausível da prefeitura de Londrina sobre quais são os protocolos com base científica para a reabertura das escolas, a Escola Premier, fundada em 2000, resolveu fazer uma cobrança pública ao prefeito:
CARTA ABERTA
Londrina, 02 de fevereiro de 2021.
Estamos vivendo um momento de muitas incertezas no que se refere ao retorno das atividades escolares presenciais na cidade de Londrina-PR.
O Poder Público Municipal não consegue explicar documentalmente, com base em informações científicas, quais regras as escolas devem seguir para voltar a funcionar, tampouco apresenta qualquer planejamento para tanto.
A própria Escola Premier, por diversas vezes se organizou e planejou retornos seguros (seguindo os protocolos de segurança), mas por incontáveis vezes o Sr. Prefeito de nosso município faz o adiamento das suspensões de atividades.
Esses adiamentos, que são nitidamente sem qualquer base científica e totalmente desorganizados, afetam diretamente a rotina e o planejamento de todos os envolvidos: famílias, escolas, trabalhadores, fornecedores, parceiros, etc.
Desde o início da pandemia, a Escola Premier primou por manter a qualidade de ensino, independente da modalidade que tivesse que seguir, e também por manter o compromisso assumido com cada família, colaborador, parceiro e fornecedor, não medindo esforços para buscar o que há de melhor para este momento tão complexo que vivenciamos. Até o presente momento foram evitadas dispensas de colaboradores vinculados às turmas que estão sem alunos (em especial às da educação infantil, já que nesta faixa etária é inviável aulas online), o que tem sido feito por meio da obtenção de empréstimos/financiamentos e renegociações com os fornecedores e parceiros, para que possa haver o enfrentamento, também financeiro, deste momento.
As escolas, até mesmo por meio do Sindicato (SINEPE) que as representam, buscaram melhores esclarecimentos com o Sr. Prefeito da cidade durante todo este período, a fim de entender os critérios médicos que justificam as medidas de controle que são adotadas nesta cidade. Sabemos que os dados que estão sendo expostos tanto pelo governo local quanto pela mídia neste momento mostram um cenário atual de piora no sentido de quantidade de casos e mortes diárias. Foram protocolados diversos pedidos de esclarecimentos, além de solicitações de exposição dos critérios médicos que justifiquem as medidas adotadas nesta municipalidade.
Observamos que, em que pese os dados mostrem uma piora no cenário de Londrina, nenhuma ação vem sendo adotada para contenção dos números de casos nesta municipalidade, inclusive, o Sr. Prefeito, no último final de semana, em que pese as recomendações do COESP, simplesmente afirma que não há necessidade de qualquer medida de restrição mais severa nesta cidade. Contudo, a manutenção do fechamento dos estabelecimentos escolares tem sido uma medida adotada desde o início da pandemia, há quase um ano, ainda servindo como argumento pelo Sr. Prefeito que o fechamento dos estabelecimentos é necessário para conter o aumento de casos, embora na realidade estes casos só aumentem.
Sim, estamos diante de um aumento destes números e, ainda assim, observando que praticamente todos os setores econômicos estão funcionando quase que normalmente, tal como acontece com bares, boates, restaurantes, shoppings centers, buffets (incluindo infantis), dentre outros. As escolas, em contrapartida, ficam fechadas por prazo indeterminado, sem qualquer planejamento de retorno, seja por meio de bandeiras ou algo que o valha, sendo que nenhum critério médico ou científico foi apresentado para a manutenção das escolas abertas.
O Governo do Paraná, assim como governos de outros estados (cada um dentro de seu cronograma), tem programado o retorno presencial das atividades das escolas, para o dia 18 de fevereiro, assim como a imensa maioria municipalidades de nosso Estado, inclusive a capital Curitiba e grandes cidades como Maringá e Cascavel. Em contrapartida, nosso governo local está adiando o retorno presencial das aulas mês após mês, como ocorre desde o início da pandemia, sendo que na última oportunidade o fez para o dia 28 de fevereiro, lembrando que, se seguirmos as experiências anteriores (desde março do ano passado), o adiamento deste prazo é certo.
Vale dizer que a OMS (Organização Mundial da Saúde), OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde), UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), dentre outras entidades, recomendam aos governos priorizarem a reabertura de escolas durante a pandemia[1], o que tem sido implementado por diversos países do mundo desde setembro do ano passado que priorizam a reabertura de escolas em detrimento de outros segmentos.
Além disso, a própria OMS já afirmou[2], desde setembro de 2020 que a pandemia não se agrava por conta de reabertura das rotinas escolares presenciais, já que todo os dados indicam que o funcionamento escolar (com medidas de segurança adotadas) não causam agravamento do cenário da pandemia, já que crianças e adolescentes não são transmissores em potencial.
O mundo todo está priorizando a educação durante esta pandemia, sendo raros os exemplos de países que excetuam a essa regra, incluindo em meio à segunda onda da que ocorreu no final do segundo semestre do ano passado[3].
Todos esses dados já foram apresentados de forma exaustiva aos poderes locais, inclusive pelo Sindicato das escolas e também por Associações de Escolas Independentes e de Associações de Mães, contudo, o Sr. Prefeito insiste em dizer que a pandemia se agravaria com a reabertura das escolas.
Importante lembrar, que tivemos uma breve experiência no final do ano passado, quando houve a reabertura das escolas por força de decisão judicial em outubro, perdurante a reabertura por praticamente um mês. Naquela oportunidade não tivemos qualquer dado de agravamento da doença na cidade.
Infelizmente vivemos um triste cenário onde, mais uma vez, a educação não é priorizada pelos poderes públicos, o qual, neste momento, contrariando as próprias orientações da OMS prioriza praticamente todos os segmentos de atividades em detrimento da educação. Ou seja, é melhor abrir bares e boates do que escolas. Em Londrina, os casos só aumentam, nitidamente porque a política que vem sendo adotada em nosso município está dissociada da ciência, contrariando as melhores medidas de enfrentamento da pandemia que estão sendo adotadas pelo mundo.
Algumas escolas do município de Londrina optaram pelo retorno presencial no final do mês de janeiro, embasados em protocolos de segurança internacionais e, ainda, com base em deliberações da Secretária da Educação e do Esporte do Estado do Paraná.
As escolas que reabriram nesta semana e na semana passada, com todo amparo em pesquisas científicas internacionais e também em protocolos de segurança da mesma qualidade estão sendo autuadas e multadas pelo poder executivo, inclusive com ameaças de cassação de alvará e interdição por tempo indeterminado. A rigidez dessas fiscalizações trata os educadores quase que como criminosos.
Acreditamos na reabertura segura das escolas, nos embasando em tudo que expusemos neste comunicado. Importante se destacar que o retorno presencial será na forma híbrida, ou seja, o aluno ou aluna que a família optar por permanecer no ensino online, como nos casos de jovens que matem contato direto com pessoas do grupo de risco, terão a alternativa de permanecer nessa modalidade à distância. Portanto, quem tem razões para permanecer online, terá essa opção.
Entendemos que a educação é atividade essencial para nossa sociedade, ao contrário do Sr. Prefeito, que vetou projeto de lei que tornava as escolas segmento essencial. Pensamos que a falta de critério científico do poder executivo está colando em risco toda uma geração de estudantes e também nossa comunidade, que está cada vez mais comprometida pela falta de adoção de medidas amparadas pela ciência.
Por fim, destacamos que, independente do formato, mantemos nosso compromisso em oferecer um ensino de qualidade e baseado em valores.
Atenciosamente,
Escola Premier
[1] https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=6283:reabertura-segura-das-escolas-deve-ser-prioridade-alertam-unicef-unesco-e-opas-oms&Itemid=812
[2] https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/2020/09/15/oms-guia-diz-que-em-maioria-dos-casos-reabertura-escolar-nao-agravou-covid-19
[3] https://g1.globo.com/educacao/noticia/2020/12/07/mesmo-com-nova-onda-de-covid-19-paises-mantem-escolas-abertas-para-minimizar-impacto-da-pandemia-na-educacao.ghtml