O Bem Paraná entrevistou a filha do senador Flávio Arns (Pode), a advogada e professora Carol Arns disputa sua primeira eleição como candidata do Podemos à prefeitura de Curitiba. Ela conta que resistiu a entrar na política, justamente por ter um pai na atividade, mesmo não vendo nenhum demérito nisso. E ao contrário do pai, conhecido por suas posições moderadas, a candidata do Podemos não se furta a dar opiniões fortes, como a de que a gestão Greca “perdeu o rumo” nos últimos quatro meses, ao priorizar investimentos em asfalto em meio à pandemia do Covid-19.
Carol Arns é direta ao afirmar que Curitiba está em uma encruzilhada decisiva. Para ela, se a gestão pública não se voltar prioritariamente a questões econômicas e sociais agora, daqui a quatro anos será tarde demais. Em entrevista ao Bem Paraná, ela explica porque pensa assim, e promete, se eleita, baixar a tarifa de ônibus pela metade, como estratégia de distribuição de renda.
Bem Paraná – Se hoje fosse 1º de janeiro de 2021, qual seria sua primeira medida como prefeita?
Carol Arns – Seria reunir a equipe para buscar fontes de recurso externo para Curitiba. O que a gente faz para buscar fonte externa de recurso e também, quais alternativas para trazer investimento para geração de empregos. Muito rápido. Inclusive eu quero que essa equipe me acompanhe. Vou fazer reunião com eles todos os dias de pé. É uma equipe que vai ficar encostada no meu gabinete.
BP – A senhora disputa a primeira eleição. Muitos conhecem a senhora por ser filha do senador Flávio Arns (Pode). Muitos podem achar que a senhora só é candidata por ser filha de um político. O que diria para quem pensa assim?
Carol Arns – Eu diria que não é nenhum demérito ser filha de bons políticos. Meu pai é um bom político. Uma pessoa que, aliás, me ensinou muito na política. E me fez acreditar que a política pode transformar a vida das pessoas. Eu quero estar na política por tudo o que aprendi com ele. A experiência que eu adquiri me traz muitos benefícios na minha caminhada política, como a questão de não desconstruir relacionamentos, manter as portas abertas tanto com o poder Executivo, quanto com o Legislativo. E acima de tudo, encontrar causas que sejam comuns. Desenvolvi minha capacidade de articulação acompanhando meu pai. Isso que a gente precisa para agora em Curitiba. Articular. Buscar recursos de fora, articular as políticas públicas, gerar emprego. Eu compreendo que as pessoas estão descontentes com a política, mas também não vejo isso como motivo para me julgarem. Porque, por exemplo, tem muitos médicos que são filhos de médicos, advogados filhos de advogados. É o contrário. Eu neguei muito esse caminho. Em função do meu pai ser político, eu demorei demais para entrar na política. As pessoas me perguntam: ‘porque agora?’. Porque tem que ser agora. Curitiba está em uma encruzilhada. Os próximos quatro anos vão ser fundamentais em Curitiba. Ou a gente coloca o olhar na questão econômica e social, ou Curitiba vai perder o rumo. Porque hoje a gente vive várias Curitibas. Mas ainda é possível a gente voltar a ser uma Curitiba só. Daqui a quatro anos não dá mais.
BP – A senhora acha que a atual administração não fez isso?
Carol Arns – A gestão do Greca foi boa para o tempo dela. Agora não serve mais. O Greca serviu para aquele momento, mas agora ele não tem o perfil para tocar Curitiba para frente para as novas necessidades que nós temos. E esse perfil já perdeu o rumo nos últimos quatro meses. O Greca perdeu o rumo nos últimos quatro meses em termos de investimentos. Ele fez um investimento de R$ 120 milhões em asfalto. Daí há dois meses ele pediu um empréstimo para a Câmara de R$ 60 milhões para fazer mais asfalto. Ele perdeu a medida da política pública do belo e do bonito. Agora nós temos uma nova situação, novas necessidades, precisamos de um novo jeito de se relacionar com as pessoas. Quando você está inserido na gestão, tem que partir do pressuposto de que a gestão só avança se você manter o que existe de bom e ajustar o que precisa ser melhorado. E ser mais ousado. Faz o que ninguém nunca pensou em fazer. É isso que está faltando em Curitiba. Porque a gestão não tem que ser focada nos próximos quatro anos. A gente tem que pensar qual a cidade que a gente quer daqui vinte anos. Em 2040, nós vamos ter em Curitiba 540 mil idosos. Hoje, o número de idosos é o mesmo da população de zero a 14 anos. Então eu pergunto? O que Curitiba está plantando hoje para que a gente tenha capacidade de acolher esses idosos daqui a 20 anos. Isso tem que ser plantado desde a infância, do ensino infantil e fundamental. E são essas pessoas que vão ter que acolher esses idosos daqui vinte anos. E vinte anos passa voando. Infelizmente, as gestões em Curitiba têm sido pautadas só nos quatro anos. E desse jeito a cidade não vai avançar.
Bem Paraná – A senhora acha que os políticos em geral pensam apenas na próxima eleição e não em planejamento de longo prazo?
Carol Arns – Com certeza absoluta. Eu quero dizer que todos os alinhamentos que o Greca está fazendo agora de união com todos os partidos, eles não estão pensando em Curitiba. Só estão pensando na eleição para o governo daqui a dois anos. E a gente não pode permitir que seja feita eleição de gabinete. Chega. Os eleitores estão muito atentos. Em que pese estarmos no meio de uma pandemia. Em que pese o outro grupo achar que já ganhou, eu acredito no eleitor. E o eleitor está extremamente atento. E hoje o que está acontecendo é uma tentativa de eleição de gabinete.
BP – O que acha da forma como a atual gestão lidou com a pandemia do Covid?
Carol Arns – Primeiro, achei correto o posicionamento da prefeitura de não fazer hospitais de campanha. Foi adequado. A gente tinha espaços onde foi possível fazer investimentos para atender melhor e mais adequadamente a população. Foi uma decisão acertada. Agora, foi uma gestão extremamente confusa. Começou bem, com um planejamento bom, mas depois perdeu a linha. Por vários motivos. Primeiro pela inconsistência na exposição dos dados. Ao mesmo tempo que você tinha uma secretária da Saúde dizendo que tinha 350 leitos de UTI, você tinha o prefeito dizendo que tinha 1 mil. E a decisão de fechar ou não fechar estava pautada no número de leitos de UTI. Se criou em Curitiba uma falsa sensação de segurança. E isso tanto é verdade que quando o governador chegou e disse fecha, o aumento do isolamento social em Curitiba foi de apenas 3%. A segunda questão é a da falta de diálogo para definir a regra. Quando você chama Fiep, Associação Comercial, associação de bares e restaurantes, venham todos. Nós vamos ter que definir uma regra em conjunto. Primeiro, falta de diálogo com os empreendedores de Curitiba. E segundo, falta de diálogo com a região metropolitana. Isso inclusive é mais grave. Como eu posso ter uma política em Curitiba, e na região metropolitana não ter a mesma regra. Isso foi completamente incoerente. Não se faz o enfrentamento de uma crise sem diálogo. Pela falta de diálogo, ele teve que se submeter à pressão da sociedade. E daí mais uma vez, ele perdeu a credibilidade. Esse não é o líder que a gente quer para a nossa cidade. A gente quer um líder que, primeiro, fique na linha de frente. Ele sumiu no meio da pandemia. E segundo, um líder que tenha firmeza, mantenha a coerência nesse momento em que a população mais precisa.
BP – A atual gestão tem terceirizado serviços de saúde. A senhora pretende manter ou rever essa política?
Carol Arns – Quando a gente fala em saúde, tem que fazer duas diferenciações. Uma coisa é a unidade de saúde, que é a saúde básica da população. Outra é a UPA, que trata de urgência e emergência. Eu entendo que a política base da saúde tem que ser feita por servidores públicos municipais. Mas na UPA eu sou a favor da terceirização, só que eu gosto de chamar de co-gestão. Essa terceirização ou co-gestão, no meu entendimento tem que ser feita por entidades sem fins lucrativos. Nós temos excelentes entidades sem fins lucrativos aqui em Curitiba que fazem um bom trabalho. Porque a UPA tem que ser feita por terceirização? Porque ela facilita o bom atendimento da população. Porque ela facilita? Por causa do quadro de colaboradores que têm que estar lá porque urgência e emergência eu estou em uma situação de risco de saúde. Eu não preciso gastar tempo em fazer os horários desses profissionais. Eu coloco essa incumbência em uma outra organização e ela fica atenta só a isso.
Bem Paraná – O que acha do subsídio repassado pela prefeitura às empresas de ônibus?
Carol Arns – Primeiro que a prefeitura violou o contrato ao ajudar as empresas de ônibus. Hoje se discute muito se o contrato deveria ser por quilômetro rodado ou número de usuários. O nosso contrato é por número de usuários. Por que eu faço um contrato por número de usuários? Porque eu divido o risco com a empresa. Então, se eu tiver mais usuários a empresa ganha mais. Se eu tiver menos, a empresa ganha menos. Quando você pressupõe esse tipo de contrato, você pressupõe a divisão de responsabilidades. A primeira vez que eu tive uma queda significativa do número de usuários, eu vou lá e coloco recurso para a empresa. Então isso não está adequado no meu entendimento. Eu nunca vi uma empresa de ônibus chegar para a prefeitura e dizer: ‘eu tive muito lucro, estou com muitos passageiros, quero deixar uma parte para você’. A prefeitura tem que entender que a gestão do transporte coletivo não é só a prefeitura e a empresa. É prefeitura, empresa e usuário. Então a prefeitura simplesmente não lembrou que dentro de uma política de transporte coletivo, você não tem duas partes, você tem três partes. Ela deu todo esse recurso para as empresas de transporte coletivo e não baixou um centavo da tarifa de ônibus. Essa política que não se admite mais. Eu sou contra a ajuda das empresas do transporte coletivo porque viola o contrato e não baixou um centavo para a população.
BP – Como pretende administrar a questão do reajuste da tarifa previsto para fevereiro de 2021?
Carol Arns – Por isso que o primeiro dia tem que ser buscar fonte externa de recursos. A gente tem tido sequencialmente aumentos significativos da tarifa do ônibus. Eu não vou aumentar a tarifa de ônibus. A prefeitura tem hoje uma capacidade de endividamento que está em 16%. É uma capacidade de endividamento pequena perto de outras prefeituras. A gente precisa utilizar todo o recurso que tem no orçamento para ganhar fôlego e subsidiar a tarifa de ônibus. Porque eu quero aumentar o subsídio? O mundo inteiro caminha para os governos subsidiando o valor da tarifa. Se você pegar a Europa, por exemplo, você tem países subsidiando a tarifa em 50%, em 70%. E nós queremos como meta reduzir a tarifa na metade. Você já deixou de contratar ou ser contratado porque precisava pegar dois ônibus para ir e dois para voltar? Se você pega dois ônibus para ir e para voltar, você gasta R$ 18 por dia. Se eu pegar esses R$ 18 e multiplicar por quatro pessoas em uma casa, eu tenho um valor de R$ 1.440,00 por mês, sem contar domingo. Para a pessoa que pega um ônibus para ir e para voltar, em uma família de quatro pessoas, eu tenho um valor de R$ 740 por mês. Se eu conseguir reduzir essa tarifa pela metade eu vou promover a maior distribuição de renda do País, independente de classe social. Porque eu vou estar entregando para a família R$ 700 por mês e o Renda Brasil está em R$ 300. O transporte coletivo tem sido um impeditivo para a geração de emprego. Você sabe quanto custa para uma pessoa entregar um currículo hoje? Se ele sai da Caximba e vem aqui para o Centro ele gasta R$ 30 por dia. Porque ele vai gastar R$ 18 de transporte coletivo, R$ 10 para comer alguma coisa e R$ 2 para usar um banheiro público.
BP – De onde sairia o dinheiro para aumentar esse subsídio?
Carol Arns – Com as fontes de recurso a gente pensa primeiro em otimizar os terminais de ônibus. Por isso que a gente vai ter que usar um pouco o dinheiro do orçamento. A gente tem que ter wi-fi nos terminais, dentro dos ônibus para permutar com as empresas. Nós vamos ter que verificar com as empresas também, que elas pagam o valor do transporte coletivo, mas isso é descontado do colaborador da empresa. Nós estamos vendo como alternativa para levantar com as empresas quantas descontam e quantas não descontam do colaborador. Verificar se essas empresas estariam dispostas a reduzir o valor do transporte coletivo para manter isso em um fundo. Essa é outra avaliação. E claro, essa discussão também tem acontecido a nível de Brasil. A gente vai ter que levar essa discussão para Brasília também. O transporte coletivo faz cinco anos que é um direito fundamental. E existem isenções que vem do governo do Estado. Se o Estado diz que o idoso não vai mais pagar transporte coletivo, ele tem que pagar. Se o governo federal diz que os funcionários de uma empresa têm isenção eu tenho que cobrar do governo federal. Eu não vou conseguir reduzir a tarifa pela metade no primeiro ano. Eu não vou aumentar. Mas eu vou correr contra o tempo para fazer isso e reduzir pela metade. Nós vamos ser referência para o Brasil na distribuição de renda via transporte público.
BP – O Podemos, seu partido, integra a base do governo Ratinho Júnior, cujo partido, o PSD, decidiu apoiar a reeleição do Greca. O que a senhora achou dessa decisão?
Carol Arns – Eu entendo que faz parte da política, mas que infelizmente a decisão do apoio foi tomada em função de uma eleição daqui dois anos. Eu compreendo que faz parte do jogo político, mas o foco está errado. O foco deveria ser Curitiba e não a eleição daqui a dois anos. Eu mando um recado sempre para o Ratinho. Eu digo: ‘olha Ratinho, nós nos conhecemos há algum tempo, eu tenho respeito por você enquanto pessoa, gestor e eu tenho certeza absoluta que você não vai fechar as portas para nós, quando a gente estiver à frente da prefeitura, porque ele quer o bem de Curitiba. Assim como eu também vou brigar pelo bem de Curitiba.
BP – O que a senhora achou dessas desistências em série de candidatos, inclusive da base do governo Ratinho Jr? Houve uma operação de bastidores para ‘limpar o caminho’ para o Greca?
Carol Arns – Com certeza absoluta. Tudo isso foi feito pela tentativa de eleição de gabinete do Greca. Isso é notório. A eleição sobrou para os corajosos. E aqui estou eu firme, forte, animada, porque eu tenho propostas.
Ta bom. Kkkk
Não se elege nem pra síndica
Reduzir a tarifa pela metade? Isso é mágica, mas eu não creio em duendes! A Gleise Fake demonstra que não entende nada de economia, que candidata despreparada é essa?
Poderia abaixar a passagem do Trêm Piuiiii.