O jornalista político Aroldo Murá conta que há mistérios escondidos nos escaninhos da Prefeitura de Curitiba que mesmo os mais persistente pesquisadores não conseguem decifrar no todo, nas muitas vezes que procuram entender a história da administração Municipal dos últimos anos. Esse quadro de incógnitas, acobertamentos de desvios funcionais e proteção a apaniguados é antigo. Isso sem falar das tristes realidades que estão por detrás de recentes contratos com bilionários prestadores de serviços do Município, como os citados em denúncias que o MPE faz sobre a Consilux, aquela dos radares…
MUNDO DE DESACERTOS
Na verdade, esse universo de desacertos ampliou-se muito no governo do alcaide Rafael Valdomiro Greca de Macedo em áreas diversas. Uma das “preferidas” das irregularidades é a Guarda Municipal de Curitiba (GM), que a Coluna tem pesquisado com fontes confiáveis da Procuradoria do Município, Secretaria de Comunicação Social de Curitiba, Sindicato dos Funcionários da Guarda Municipal e em registros de imprensa local. Isso sem contar o apoio de diversos funcionários públicos, alguns muito próximos do gabinete de Greca. Como donas Loly e Matilde da Luz, velhas a valorosas senhoras “de outros tempos”, nossos olhos e ouvidos por lá (apesar do coronel Zanata…).
A maior fonte potencial de informação, no entanto, é ainda a Procuradoria do Município, que deveria disponibilizar os processos conforme a Lei da Transparência. Isso não ocorre. E só com um trabalho de “Sherlock”, e com riscos de perdas de empregos (em certos casos) é que se conseguem subsídios para entender tanta nebulosidade e injustiças da PMC nos tempos do atual alcaide.
E olha que a GM tem sua história marcada por episódios de triste memória, desde a fundação, em 1988 – por Roberto Requião – quando “tinha a qualquer custo”, diz um historiador, “de parecer exemplar, tarefa que coube ao diretor delegado Branco”. É como a mulher de César – “tem de parecer honesta”.
CORRUPÇÃO DESLAVADA
Assim, cito apenas uma das injustiças como aperitivo: Rafael Greca colocou em postos chave da Secretaria de Defesa Social Odgar Nunes (superintendente, na verdade, subsecretário), e na Guarda Municipal, Carlos Celso dos Santos Junior (superintendente) personagens altamente prestigiadas pelo alcaide mas que, comprovadamente, forjaram e receberam por horas extras que não trabalharam, em seus benefícios, ,gerando R$ 19.790,77 de prejuízo ao erário (Odgar) Nunes Cardoso); e R$ 18.745,72 (inspetor Carlos Celso dos Santos Junior).
O atual secretário, um jovem e bem preparado delegado da Polícia Civil, cidadão exemplar, parece ter sido colocado por Greca como “para cumprir cota da Secretaria de Segurança Pública”, observa um vereador da oposição.
CRIME COMPENSOU
Os citados desvios criminosos ocorreram entre fevereiro de 1997 e dezembro de 1999; conforme processo administrativo 01-37.660/2001. As investigações comprovaram os desvios. Mas a Procuradoria do Município, em lugar de exonerar os servidores que receberam por horas extras fraudadas, pediu apenas que fosse feito ressarcimento aos cofres públicos. Um ressarcimento mísero, não mais que 5 parcelas de R$ 239,05 (Odgar) e Celso devolveu 3 parcelas de R$ 332,96 (sendo que tinham, respectivamente, surrupiado dos cofres públicos R$ 19.790,77 e R$ 18.745,72… O crime compensa?
Coloquem-se juros e inflação para avaliar o golpe que isso significou nos cofres públicos, em dinheiro de hoje, numa cidade assolada pela ausência de leitos de UTI para combate ao Covid-19.
PREÇO DO DEVER
As contradições e lesões aos cofres públicos são muitas em várias áreas da Prefeitura. No caso da GM, injustiças clamam aos céus. E sob o espírito de impunidade transitam. Tudo indica que só a Justiça poderá corrigir “essas iniquidades”, como alerta um vereador. Se não, vejamos:
Em maio deste 2020, o guarda municipal Jefferson Tosatti, com os companheiros GMs Crevelloni e Leandro – e sob a supervisão (ordens) do então Supervisor da GM Julio Cesar Svitalski (in memoriam) – foram exonerados porque, simplesmente cumpriram o dever, prendendo de madrugada, no Carnaval de 2015 o motorista de um carro que furava semáforos na Rua Desembargador Motta.
O motorista estava embriagado. O caso rolou, o motorista perdeu em primeira instância, mas foi considerado inocente em segunda. Isso sem que o TJPR jamais contestasse o trabalho dos guardas. Apenas indicou falta de provas consistentes – E decidiu “in dubio pró réu “. Na dúvida, em favor do réu. Anote-se: o motorista se negara a fazer prova contra sim mesmo (bafômetro).
DOIS PESOS, DUAS MEDIDAS
Tosatti, testemunham antigos colegas seus, tem ficha exemplar na GM. “Às vezes, é verdade, despertava ira de guardas inadequados no cargo, por suas ações consideradas ‘muito legalistas’, mas irrepreensíveis do ponto de vista legal, ético, moral”, assegura um velho GM. Benquisto pelos alunos do curso de formação de guardas, Tosatti, não conseguiu, no entanto, a simpatia de certos “majorengos” da Guarda Municipal, que usaram de dois pesos e duas medidas para julgar comportamento funcional de Tosatti. Aconteceu assim, resumidamente, poucos anos atrás:
Ao fazer patrulha motorizada, numa determinada noite, Tosatti recebeu por rádio pedido de socorro de colega, um guarda municipal, que tivera a casa invadida, e sob risco de vida. Foi atendê-lo “isso é o que aprendi desde o começo, atender a quem, como eu, estava servindo à comunidade mas vivendo um momento de risco de vida”, explica Jefferson. Ao mesmo tempo, o superintendente Carlos Santos, depois de ordenar, por rádio, que Tosatti interrompesse o atendimento à família sob risco de vida, passou-lhe ordem: que viesse, com seus patrulheiros, à casa de seus avós (dele, Celso), uma edificação abandonada supostamente mocó de drogados. O grupo – obediente à ordem de interesse pessoal do superintendente Celso – fez ampla busca, nada de irregular encontrando. Para surpresa de Tosatti e muitos membros das Guarda: O inspetor Odgar de imediato abriu processo contra Tosatti, alegando insubordinação, porque ele atendera à solicitação do colega GM.
CASTIGO SEM CRIME
Tosatti, que antes participava do GOE (Grupo de Operações Especiais), acabou sendo punido com diversos “castigos”. Um deles, foi colocado a fazer patrulhamento a pé em áreas centrais de Curitiba, função normalmente destinada a principiantes na GM em fase de provação. E seguiram diversas mudanças de turnos de serviços, em inopinadas alterações de escalas de Tosatti. Humilhar, rebaixar, castigar – essas eram as ordens, opinam colegas de Jefferson.
“O caldo entornou mesmo foi quando Jefferson, chamado à Procuradoria do Município, para depor contra o processo que corria contra ele, faz denúncia que atingiu o superintendente Carlos Celso, a quem, na mesma ocasião, em seguida do episódio do atendimento de socorro ao guarda GM, foi mandado com sua equipe para investigar caso de interesse pessoal do superintendente”, explica um procurador aposentado de Curitiba, que foi voz sem voto, em favor de Tosatti na PGM no processo de demissão do guarda.
Tosatti, pai de 3 filhos, chefe de família, sem o emprego em tempos de pandemia, que assumiu por concurso e por vocação irresistível, costuma dizer que sua vocação para a GM veio-lhe quando criança pelo que segue: a Guarda Municipal tentara nos anos 1990, em vão, salvar sua mãe e tia que foram, em acidente de carro, lançadas nas cavas do Iguaçu, embora conseguisse êxito no atendimento as duas companheiras delas no mesmo evento.
Na petição administrativa que encaminhou ao ‘piedoso’ prefeito Greca – que sempre se proclama acolitado em missas pelo “Gaúcho Ruim” (apelido de Odgar na GM) – Tosatti coloca todas suas fichas no espírito de justiça que deve reger o alcaide tão proclamadamente “ético e moral”.
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o cara pegou 18mil e devolveu 3 parcelas de 300, essa prefeitura é uma mãe