O Antagonista informa que a Vale anunciou em 11 de dezembro a compra da desconhecida New Steel, empresa que teria capacidade de reprocessar rejeitos minerários a seco – eliminando o uso de barragens e o risco de novas tragédias, como de Mariana e Brumadinho.
O valor do negócio surpreendeu agentes do mercado: US$ 500 milhões ou R$ 1,8 bilhões na cotação de hoje.
Documentos obtidos por O Antagonista mostram que a New Steel é uma empresa “não-operacional” e que a prometida tecnologia de beneficiamento nunca foi comercializada.
“As empresas-alvo possuem faturamento imaterial, em decorrência de não desempenharem atividades comerciais operacionais”, atesta o anexo II do contrato.
Mesmo sem ativos industriais ou faturamento declarado, a Vale garante que o meio bilhão de dólares oferecido no negócio é “compatível com o valor de mercado da empresa”, tendo em vista patentes registradas “em 57 países” e uma “boa performance” futura.
No CADE, a operação foi aprovada em cerca de 20 dias.
Em seu último balanço patrimonial disponível, obtido pela reportagem, a New Steel indica entre seus principais sócios a empresa GN da Barra Empreendimentos, com pouco mais de 20% das ações.
A GN da Barra Empreendimentos pertence à Cemar Consultoria Ltda, de Marcelo Soares Pereira, mais conhecido no ‘jet set’ carioca como Tuca Maia.
Citado na Lava Jato, mas nunca investigado, Tuca Maia é figura corrente nas colunas sociais, marcando presença em festas e viagens ao lado de Aécio Neves – que teria sido responsável pela indicação do atual presidente da Vale, Fabio Schvartsman – e de outros empresários amigos enrolados na Justiça.
Em sua delação, homologada em 2017, o ex-deputado Pedro Corrêa cita Tuca Maia em episódio envolvendo o pagamento de propina a Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras.
Segundo Corrêa, o empresário propôs vender à estatal 45 milhões de litros de “álcool anidro infectado”. Em troca, teria pagado propina de R$ 4,8 milhões ou 5% do negócio.
Na delação, o ex-deputado disse ainda que o dinheiro teria sido repassado pela destilaria Dínamo à empresa 2S Participações, do então publicitário Marcos Valério.
“Petrolão e mensalão eram uma coisa só”, disse Corrêa.