Será lançado amanhã em Curitiba, o livro “Espaço Aberto – às memórias dos filhos e filhas da PUC”, no restaurante Dedo de Moça, localizado na Rua Itupava 1133, Alto da XV, a partir das 11h, recuperando a memória do movimento estadual na instituição entre os anos de 1977 a 1985, e que deixaram o pai do senador Flávio Arns (PSB), Oswaldo Arns, reitor da então Universidade Católica do Paraná (UCP), atual PUC-PR, com os poucos cabelos em pé.
Nesse período surgiram líderes como o atual vereador Angelo Vanhoni (PT), o deputado federal Luciano Ducci (PSB), Prudente Mello, Geraldo Serathiuk, Cristiano Mello, Amauri Escudeiro, Beto Von Der Osten, Célia Mazza, Cafuringa, Chico Duarte, Cristina Mello, Isabel Drulla, Carlos Delgado, Emílio Rodrigues, Marcos Cordiolli, Sandra Nassar, Samuel Gomes, Mônica Giovanetti, Maigue Gueths, Zezé Coelho e Fernando Tupan, entre outros.
Zeze Coelho dá uma ideia no prefácio do livro, do que esperar com o livro Espaço Aberto – às memórias dos filhos e filhas da PUC.
Porque tinha que acontecer
O livro “UM ESPAÇO ABERTO às memórias dos filhos e filhas da PUC” acontece espontaneamente, assim como o movimento cultural e político que foi o catalizador destes relatos. Acontece, pois, era a hora e o lugar de acontecer.
O nascimento deste movimento e de outras manifestações estudantis na Universidade Católica do Paraná (hoje PUC/PR) foi marcado pela participação de uma geração de estudantes em um contexto de repressão e de lutas pela democracia e justiça social, e ocorreu de maneira natural e não planejada, sem censura ou inibição, rompendo com as convenções e normas pré-estabelecidas. O resgate desta publicação não é apenas um olhar nostálgico sobre o passado, mas sim uma reflexão profunda sobre a importância da história, tanto no aspecto coletivo quanto no pessoal e emocional. Na escolha das fotografias e das imagens, priorizou-se o valor do registro histórico sobre a qualidade. O contexto, a afetividade e as lembranças também pautaram a escolha do material fotográfico.
A recuperação e a divulgação de fotografias, inicialmente entre um pequeno grupo, e as lembranças de um tempo não tão distante, acabaram sendo os propulsores de um encontro de memórias e de pessoas, transformando-se em um rico testemunho das experiências vividas pelos autores/protagonistas dessas histórias, entre as décadas de 1970 e 1980. Por meio de relatos pessoais, os autores desvendam a trajetória de estudantes que, unidos pela arte e pela política, encontraram no espaço acadêmico um terreno fértil para resistir e reivindicar direitos.
O primeiro texto – “Espaço Aberto”, contextualiza e discorre sobre significativos fatos da época, e apresenta eventos históricos como fatores imprescindíveis na compreensão dos desafios atuais, especialmente com o avanço da extrema direita no Brasil, na América Latina e no mundo. Reflete sobre a experiência de estudantes da então Universidade Católica do Paraná entre 1977 e 1985 e destaca que a frase “filhos e filhas da PUC” se tornou um símbolo de identidade e pertencimento, ressuscitando histórias e experiências que moldaram a formação de uma consciência crítica.
“Memórias a Céu Aberto” é um delicioso relato de fragmentos de lembranças e nos transporta para manhãs de aula e conversas despretensiosas e fundamentais, pois revelavam nossos sonhos, projetos e intimidades, em um tempo de incertezas e esperanças. A importância da criatividade e da cultura promovidas pelo evento “Espaço Aberto” se reflete nos lançamentos literários, nos debates e nas apresentações artísticas que enriqueceram a vida no campus. A criação da Casa do Poeta é um dos muitos resultados positivos da mobilização estudantil, onde a arte e a sensibilidade poética podem ser utilizadas como formas de expressão e transformação social.
O corredor do bloco A do Centro de Biomédicas foi o palco de encontros poéticos na década de 1980, onde surgiu o grupo Encontrovérsia que hoje, após 44 anos, continua ativo, promovendo debates e lançando novas antologias. Este início, nos vibrantes anos 80, é apresentado no texto “Encontrovérsias e a PUC”, destacando a importância da conexão da poesia com o cotidiano, evidenciando a habilidade do grupo em relacionar cultura e sociedade e deixando um legado significativo.
A narrativa pessoal dos textos “Movimento Estudantil e a Formação de um Profissional” e “Nem Todos os Gatos São Pardos” revelam as tensões e os desfechos resultantes da busca por um ensino de qualidade e do enfrentamento ao autoritarismo e deixam evidente a interseção entre a experiência individual e o ativismo político, revelando como a trajetória no movimento estudantil influenciou nas suas escolhas e formação, além de promover processos de autodescoberta política.
A experiência transformadora na narrativa “Uma porta se abriu e nada será como antes” mostra como o ativismo gerou uma identidade coletiva entre os estudantes que resistiam. A ocupação da reitoria em defesa dos direitos estudantis foi um marco significativo, evidenciando a determinação em lutar por um futuro mais justo e igualitário.
“A luta da Comunicação por dias melhores na educação” é um chamado à reflexão sobre a liberdade de expressão e a qualidade do ensino, aspectos que ainda exigem atenção no contexto educacional. O texto articula demandas que ecoam até os dias atuais, oferecendo uma análise da greve desencadeada em 1979 – um movimento que expôs a precarização do ensino superior e demonstrou que o empenho da mobilização não foi apenas para salvar um curso, mas para garantir o acesso ao conhecimento em tempos de censura e repressão.
O impacto das experiências na formação pessoal e profissional dos estudantes é um dos principais pontos abordados na obra. Histórias como a de “Meu olhar ao Movimento Estudantil da Universidade Católica do Paraná” revelam lutas por igualdade e liberdade, mas também formam uma teia de conexões e amizades que marcaram suas vidas.
Em meio às lembranças e imortalizados em sua juventude eles estão aqui, apesar da ausência física, suas memórias nos envolvem. O sorriso sério do Chiquinho, a Marilza, com seu jeito singular de ver a vida, o Mário, sempre pronto para uma boa piada, a amizade da Vivi e a energia contagiante do Ze Romagnolli quase superam o vazio de suas ausências, pois está preenchido pela presença da marca que deixaram em nossas vidas.
As narrativas íntimas e coletivas de “UM ESPAÇO ABERTO às memórias dos filhos e filhas da PUC”, “traz à tona uma rica fonte de aprendizado e inspiração.
As experiências aqui compartilhadas nos lembram da importância da memória na luta pela democracia, saúde, educação e justiça social. Mas lembram principalmente dos jovens que, com coragem e determinação, fizeram parte desta história.
Peço licença para “falar” agora na primeira pessoa e expressar que, ao longo dos anos, vivemos momentos intensos. Rimos com alegria e enfrentamos dores profundas. Contamos histórias uns para os outros, compartilhamos brincadeiras e discutimos com fervor porque, às vezes, torcemos por “times” rivais. Mas, acima de tudo, sonhamos intensamente e sonhamos juntos.
Sonhamos com um mundo mais justo, onde reinem a paz e a felicidade. Esses sonhos, nutridos com esperança, nos levaram a realizar conquistas significativas. Acreditamos firmemente que as mudanças acontecem quando nos engajamos ativamente na construção do futuro.
Mesmo que a maioria tenha seguido por caminhos diferentes, nossas trajetórias, de alguma forma, nos trouxeram de volta a este espaço de compartilhamento. As narrativas que este despretensioso relato apresenta confirmam que ainda somos aqueles jovens que, durante os anos de faculdade, estiveram no centro de um movimento que deixou um legado pelo qual ainda hoje somos responsáveis.
O compromisso que assumimos lá atrás é o fio invisível que agora nos reuniu e que nos lembra da importância de cultivar a memória e honrar aquilo que vivemos juntos. Cada um de nós, à sua maneira, carrega consigo as histórias e as lições aprendidas e, ao nos reunirmos aqui, revivemos não apenas o passado, mas também renovamos nosso respeito por tudo que conquistamos e por aqueles que vieram antes de nós.
Porque tinha que acontecer.
Que a leitura deste livro nos inspire.
Desejo a todos uma leitura enriquecedora!
Maria José Coelho