quarta-feira, abril 24, 2024
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Menina dos olhos de Greca, Vale do Pinhão tem muita propaganda e pouco dinheiro

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Rosiane Correia de Freitas conta no Plural que o programa que se transformou na menina dos olhos de Rafael Greca (DEM) tem nome, propaganda e muito autoelogio. Só não tem dinheiro. O Vale do Pinhão, criado para incentivar o ambiente de startups em Curitiba, poderia ser um instrumento útil para fomentar a economia da cidade neste momento de pandemia e crise. No entanto, os recursos prometidos nunca chegaram a nenhuma empresa, e hoje a ajuda se resume a cursos à distância e apresentação de projetos a potenciais investidores privados.

Impulsionado pela presença de alguns “cases de sucesso”, o ecossistema local ganhou na gestão de Greca nome – Vale do Pinhão – e a promessa de um fundo de R$ 10 milhões para financiar pesquisa e desenvolvimento. Porém o mandato do prefeito chegou ao último ano sem que o valor tenha saído do papel.

Lançado como ideia em 2017, no início da gestão de Greca, o projeto de financiar pesquisa e desenvolvimento de startups foi previsto na Lei de Incentivos à Inovação (LEI Nº 15.324 de 09 de novembro de 2018), promulgada em 2018. O texto previa o fomento do ecossistema e indicava que a criação do fundo dependia de lei específica, que foi enviada à Câmara em 2019 e promulgada em novembro daquele ano.

Mas a promulgação da lei é apenas um passo burocrático. O fundo só passará a existir quando houver recursos e ele for regulamentado por decreto. Ainda no fim de 2019 o prefeito enviou uma emenda ao orçamento para a Câmara estabelecendo um aporte inicial de R$ 3,5 milhões saído do orçamento da cidade, um valor muito aquém dos R$ 10 milhões prometidos inicialmente, mas que ainda não se materializaram.

Os R$ 3,5 milhões sairiam do orçamento regular das Secretarias. Com a mensagem do prefeito aprovada na Câmara, o que aconteceu foi a criação da dotação orçamentária, algo como uma conta bancária, que deverá receber os recursos e a autorização de transferência de valores previstos no orçamento da cidade de outras contas para a do fundo. Mas na prática, a própria Agência Curitiba, responsável pelo programa Vale do Pinhão, admite que nenhum valor efetivamente está à disposição das startups.

Ao Plural, a Agência informou que a previsão é que isso venha a ser definido no segundo semestre. Enquanto isso, startups da cidade que estão sob pressão por conta da pandemia recebem dois tipos de ajuda da prefeitura: cursos à distância e eventos, como a apresentação de “pitches” a potenciais mentores e investidores. Mas nada de recursos financeiros.

Para Rafael Tortato, coordenador de Startups Estadual do Sebrae, a formação de empreendedores é parte importante do ambiente startup. “A gente ouve muito que não há financiadores, mas muitas vezes o que acontece é que não há projetos”, diz. O Sebrae, diz ele, está trabalhando na formação de ambos para que conversas entre empreendedores e financiadores evoluam, o que, reconhece, acontece pouco ainda por aqui.

Ou seja, as startups apresentam seus projetos em sessões de Pitch, mas poucas vezes isso evolui, de fato, para contratos de financiamento.

Recentemente, a prefeitura comemorou do Vale do Pinhão no Top 100 Emerging Ecosystem Ranking, produzido por uma startup americana especializada em coletar e analisar dados sobre ecossistemas de startups. A notícia mereceu manchete no site da prefeitura, posts em destaque nas redes sociais do município e divulgação para os meios de comunicação locais, alguns dos quais reproduziram ou repercutiram o material.

“Curitiba integra ranking de ecossistemas de startups mais promissores do mundo”, dizia o destaque na página da Prefeitura no Facebook, que tem quase um milhão de seguidores. O texto que acompanha a postagem ia mais longe: “Estamos no Top 100 do relatório como um dos ecossistemas de startups mais promissores do mundo”.

No entanto, a comemoração depende de uma visão bastante controversa do ranking. Primeiro, na lista Curitiba é citada como emergente, não como promissora. A tradução bondosa é uma licença poética da atual administração. Além disso, o “Top 100” a que a comunicação do prefeito se refere é um ranking secundário, que só aparece depois dos verdadeiros 40 primeiros lugares. E nesse ranking secundário, Curitiba aparece em um dos últimos lugares. O ranking principal, com 40 ecossistemas, só tem uma cidade brasileira, São Paulo, em 30º lugar. 

O novo ranking da Genome, a própria startup explica, é resultado da ampliação do número de cidades estudadas pelo grupo e indica a avaliação só de quatro dos seis itens do ranking original. Desses, Curitiba – que está na faixa 91 a 100 do ranking – só pontuou bem em performance – nota 7 de 10. Nos itens financiamento, talento e dimensão do mercado as notas ficaram entre 1 e 2.

A chegada de Curitiba à lista também acontece depois que a Genome conheceu a cidade ao vir participar do programa de startups do Sebrae na cidade. Segundo Rafael Tortato, a empresa tem um contrato com o Sebrae, cuja metodologia de análise de startups forneceria uma “régua universal” de avaliação.

É um “processo recente”, explica. O próprio Sebrae acompanha e avalia os ecossistemas de startups em todo o Paraná. Um relatório da entidade de 2019 aponta a existência de 1.032 startups nas seis regiões do estado, 164 delas na capital.

A avaliação da Genome, no entanto, se limitou a Curitiba, como explicou ao Plural Arnóbio Morelix, Chief Innovation Officer da empresa. O trabalho da Genome, além de produzir rankings de ecossistemas, é “melhorar a performance de ecossistemas de startups”. No site, a instituição aponta como um dos serviços fornecidos atrair atenção e recursos internacionais para ecossistemas locais. 

Em Curitiba, além do Fundo de R$ 10 milhões que, na prática, não existe, a Genome encontrou outros indícios de sucesso, como o Ebanx, uma das mais novas startups unicórnio do país – ou seja, uma empresa cuja avaliação de mercado passou de um bilhão de dólares. O Ebanx foi criado em 2012. Em entrevista ao Plural, Arnóbio Morelix admite que o Ebanx, que não foi gerado no Vale do Pinhão, foi importante para a nota da cidade.

A realidade das outras startups da cidade, no entanto, é bastante diferente. O próprio Sebrae, no relatório de 2019, indica que das 1.036 startups analisadas na ocasião, 46% estavam ainda nas fases de descoberta e validação. E só 86 declararam ter recebido investimentos, num total de R$ 818,50 milhões.

Um ambiente promissor, o relatório da Genome informa, tem financiamento disponível especialmente nas fases iniciais, quando a ideia ainda não tem resultados capazes de atrair a atenção de fundos privados. É aí que entraria a importância de um fundo estatal de investimento em pesquisa, caso do INOVA VP, nome dado ao projeto da prefeitura.

Mas afinal, qual a relevância de um ranking e de alguns posts em rede social sobre um projeto da prefeitura? Em 2020, o prefeito Rafael Greca encerra seu segundo mandato como prefeito (ele já administrou a cidade entre 1993 e 1996) como candidato favorito na eleição municipal.

Nos quatro anos, uma das bandeiras dele foi justamente ter trazido para Curitiba o título de “cidade inteligente”, conquista que ele comemorou inclusive em uma citação publicada pela Genome, no relatório sobre ecossistemas de startups.

A evolução tecnológica prometida certamente seria uma grande vantagem neste momento desafiador, ajudando a cidade reelaborar sua vocação econômica, reduzindo os efeitos nefastos da pandemia de Covid-19 na economia.

Segundo o Sebrae, a maior parte das startups de Curitiba são justamente das áreas de educação e saúde, estratégicas neste momento. Mas apesar de ser uma “cidade inteligente”, a capital fez pouco para incluir o ecossistema a estratégia de enfrentamento da pandemia.

Para Tortato, a situação das startups na crise é variada. Há quem tenha se adaptado rapidamente a nova realidade. Outras empresas, especialmente as que dependem de laboratórios e recursos de universidades, que estão fechadas, ainda tentam se reorganizar.

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