sexta-feira, abril 19, 2024
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O impacto da pandemia nos bares do underground curitibano

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Marcos Anubis, no site CWB Live, fez uma avaliação de como está sendo o impacto com o avanço da pandemia do Covid- 19, Curitiba em alerta laranja e podendo cair no vermelho, com os casos de mortes e internamentos subindo assustadoramente. Na prática, no Brasil, não houve um lockdown real como os que foram realizados em outros países que conseguiram enfrentar esse desafio de maneira efetiva, como a Inglaterra, a Itália e a Espanha.

Porém, mesmo com essa situação perigosa, não existe nenhuma perspectiva de que esse cenário melhore a curto prazo, afinal, o poder público não dá mostras de que vai adotar medidas fortes que contribuam para que isso aconteça. Ou seja, a realidade da pandemia no Brasil é incerta e assustadora.

Jana Santos faz parte do grupo “Fechados pela Vida”, que reúne empresários curitibanos que se uniram para cobrar do poder público uma atitude mais forte no combate ao coronavírus. O movimento gerou um abaixo-assinado com 15 mil assinaturas que foi entregue no dia 25 de julho para a Prefeitura de Curitiba, o Governo do Estado e o Ministério Público.

No Cosmos G/astrobar, Jana tomou a decisão de suspender as atividades logo no início da pandemia. “Acredito que todas as medidas sanitárias devem ser adotadas. Apesar de não ter sido decretado o fechamento, permanecemos totalmente fechados por 60 dias e tomamos e essa decisão logo no início. Voltamos agora somente com o delivery”, diz.

Jana acredita que, se medidas mais fortes tivessem sido adotadas logo que os efeitos do Covid-19 começaram a afetar o país, a situação atual não seria tão crítica.”O lockdown deveria ter sido decretado no início, quando todos estavam engajados e tinham um pouco de reserva de dinheiro. Por falta de pulso das lideranças que cederam aos lobbys, tivemos uma quarentena de mentirinha. Os shoppings, as igrejas e tudo mais ficaram abertos e os casos quintuplicaram”, opina.

A proprietária do bar Lado B, Regina Walger, tem uma opinião parecida. “Nós somos a favor do fechamento dos bares e do comércio em geral”, diz.

Já para Patty Borin, o ideal seria adotar medidas menos drásticas. “Em nossa opinião, o lockdown vertical seria o melhor nesse momento. Ou seja, autorizar o comércio mesmo que seja com horário reduzido e protocolo de segurança. Quem precisa trabalhar vai para a rua e o grupo de risco e aqueles que podem permanecem em casa”, analisa.

Sandro Tavares acredita que é possível manter os locais abertos desde que eles cuidem dos protocolos de segurança. “Acho que as medidas poderiam ser menos drásticas. O setor de restaurantes, por exemplo, poderia trabalhar até às 22h, com uma limitação de pessoas e tomando todas as medidas de segurança contra a pandemia”, avalia.

Porém, mesmo com as opiniões divergentes em relação ao lockdown, a insatisfação dos empresários com as medidas que vêm sendo adotadas pela Prefeitura de Curitiba e pelo governo do estado é geral.

A principal reclamação diz respeito ao “abre e fecha” dos estabelecimentos, que vem se tornando rotina nas últimas semanas. “Para nós, fica uma situação horrível porque somos forçados a fazer uma ‘reabertura’ com capacidade reduzida. Porém, quem é que vai sair de casa para tomar uma cerveja, correndo o risco de parar em um hospital e ficar 40 dias em uma UTI? Como eu convido as pessoas para vir ao bar se a recomendação oficial é para ficar em casa?”, diz Jana.

A falta de clareza e de efetividade das iniciativas que vêm sendo adotadas pelo poder público é um dos grandes alvos de críticas dos empresários. “Nós sentimos que não existem critérios técnicos para essas decisões. Abrem os shoppings, que são estabelecimentos fechados com grande fluxo, e fecham restaurantes por boa parte do dia, que são estabelecimentos muito menores em um ambiente mais fácil de controlar”, opina Jana.

Dessa forma, além das perdas humanas, o impacto social e financeiro da pandemia já está sendo sentido por todos. “Agora, com mais de 90% dos leitos ocupados, temos que falar novamente sobre a necessidade de lockdown. Só que o dinheiro já acabou há muito tempo e é lógico que o empresariado vai brigar se isso for decretado. Não adianta mandar fechar e não oferecer ajuda”, complementa Jana.

As críticas ao poder público vão além das atitudes de contenção da pandemia. “Não tivemos quase nenhuma ajuda financeira, ela está vindo em um ritmo muito lento. As pequenas empresas, como nós, já precisavam de empréstimo no início da pandemia e tem muita linha pública que só está saindo 90 dias depois. O governo demora para liberar ajuda e, quando vem, já aumentou a nossa dívida. Eu estou há três meses lidando com a burocracia para conseguir um empréstimo que já era importante lá atrás. Enfim, precisamos de um plano de ação, de planejamento, e parece que não isso não existe em lugar algum”, diz Jana.

Na opinião da proprietária do Cosmos G/astrobar, o comprometimento igualitário seria a melhor solução nesse momento. “Acredito que todos os setores com riscos de contaminação devem contribuir por igual no combate ao vírus. Nós sentimos falta de planejamento, de ação. Parece que o setor que grita mais alto acaba abrindo”, complementa.

Outro questionamento muito forte dos empresários é em relação a fiscalização dos locais que não cumprem as determinações. “A fiscalização é totalmente ineficaz, somente de caráter educativo. O fiscal chega em um parque cheio e não faz nada. O que faz com que a gente se sinta injustiçado é que os mesmos estabelecimentos que descumpriam as regras, continuaram descumprindo e nunca são fiscalizados. Eu fiz denúncias que só foram verificadas 30 dias depois. Liguei para Guarda Municipal, para a polícia, e eles diziam que não tinha decreto, que só podiam orientar, só que isso tem funcionado muito bem. Aí, a Prefeitura culpa os bares pela escalada de casos, sendo que, por decisões deles, tudo foi abrindo”, critica Jana.

Diante de todo esse cenário, além da morte de mais de mil pessoas no Paraná, até agora, o impacto na vida dos trabalhadores que dependem dos empregos nos bares também vem sendo muito forte. “Estamos praticamente sem nenhum faturamento. Trabalhamos em família e o único funcionário que tínhamos era pago com uma taxa, mas não conseguimos manter. As contas de água e luz, o aluguel e algumas contas com fornecedores estão atrasadas”, diz Josmar.

No Jokers, o impacto também foi muito forte. “Nós tivemos que dispensar todas as pessoas que faziam serviços esporádicos, entre eles, os seguranças e o técnico de som e de luz, que eram contratados semanalmente. O nosso faturamento caiu em 90%. Estamos trabalhando somente com o delivery, fazendo propaganda nas mídias sociais e fechando com vários serviços de entrega”, conta Sandro.

No Cosmos G/astrobar, a situação não é diferente. “Tivemos uma queda de 90% no faturamento. Parece que o delivery é uma saída fácil, mas ele tem custos enormes de operação que ficam entre 20 e 30%. Sem contar que nós temos que subsidiar as promoções de desconto e o frete grátis. Os bares ou restaurantes que tinham uma equipe de atendimento, normalmente possuem custos muito maiores do que só as cozinhas escondidas, que são pontos baratos com uma equipe reduzida e estrutura pequena”, diz Jana.

O delivery, que vem sendo usando por muitos bares como uma medida paliativa, realmente não é bem visto por todos. “Você ganha praticamente um sócio do seu negócio. E um sócio terrível porque trata mal os entregadores. Eles têm que comprar as caixas de entrega e não recebem nenhum material de segurança. Além disso, não existe qualquer incentivo para que um trabalhador que tenha coronavírus pare de trabalhar. A empresa não paga os dias nos quais eles fiquem parados e o governo também não. Então, qual é o incentivo que eles têm para permanecer em casa, se vão ficar sem o sustento? Estou incentivando meu delivery próprio e, para me adaptar, fiz um cardápio direcionado para essa modalidade”, explica Jana.

Assim, com a falta de um planejamento de combate eficiente, o impacto financeiro nos bares foi fulminante. “O nosso faturamento caiu 100%. Demitimos 50% dos colaboradores e suspendemos os contratos dos demais. Fora isso, temos profissionais indiretos, entre eles, os músicos, técnicos de som e de luz e roadies. Todos eles estão parados, sem trabalhar a mais de 100 dias”, diz Patty Borin.

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