terça-feira, abril 23, 2024
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Livro de Emildo Coutinho aborda a política sob a perspectiva de um jornalista imaturo e desiludido

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A política é coadjuvante, mas está bem presente no novo livro do jornalista Emildo Coutinho. A começar pelo título. Jamais Serás um Dhimas Draumann se refere ao jornalista Thomas Traumann, a quem Coutinho foi comparado, na redação do extinto O Estado do Paraná, em 1994, como referência a um bom profissional que passara pela empresa e ao qual, o então jovem repórter, jamais estaria aos pés.

A partir de notícia sobre o abandono de Thomas Traumann (Dhimas Draumann, no romance) da Secretaria de Comunicação da Presidência, em plena crise do Governo Federal, em 2015, o protagonista da história, José Renato Ribeiro, lembra de toda sua trajetória profissional nos jornais e empresas de comunicação em Curitiba e na capital dos Estados Unidos, Washington D.C.

Quando José Renato Ribeiro passou pelo O Estado do Paraná, Dhimas Draumann era correspondente da Folha de São Paulo. Ingênuo, José Renato não sabia que o chefe de redação, que assim é descrito: “usava uma camisa xadrez, botas e um grosso cinto de couro”, em um visual “peão de rodeio”, entrava nos arquivos dos repórteres durante a escrita dos textos.

Dessa forma, se depara com três matérias ainda sem terminar, imperfeitas, sendo elaboradas pelo novo contratado, e conclui que já estavam prontas. Logo pede ao editor, cujo sugestivo nome é Dráuzio Dalhe Canetta, que despeça o repórter. Assim ele o faz, mas não sem antes praticar o que é descrito no livro como “ritual sadopsicológico”.

Insinuar que José Renato jamais seria um Dhimas Draumann, rir do nervosismo do repórter, que precisava do emprego, e insinuar que ele não sabia escrever, é pouco. Dráuzio Dalhe Canetta diz coisas como “hoje veremos se o vamos despedir, até a tarde te falo”. O narrador descreve o episódio como “dias em que o transformaram em um boneco de vudu, cravando espinhos de hora em hora”.

O interessante – e aqui é mais um “momento político do livro” – é que José Renato, durante este período, é enviado para cobrir um discurso do então candidato ao governo do Paraná, Jaime Lerner, quando fazia campanha pelo Estado afora, “lançando suas sementes”, como dizia seu marketing político.

O repórter é enviado em um pequeno avião, junto com outros jornalistas. Quando volta, escreve a matéria e é despedido logo após. No dia seguinte, vê seu texto publicado na editoria de Política, ipsis litteris, nem sequer uma vírgula fora mudada.

Pseudônimos irônicos

Emildo Coutinho usa pseudônimos irônicos em uma narrativa bastante melancólica. É assim que fala sobre uma pauta roubada por uma editora da revista Veja, cuja publicação local na época é chamada de Vejinha, na qual sugere uma reportagem sobre a vida dos homossexuais no Brasil, mais precisamente em Curitiba.

Nesta época, durante a campanha para prefeito, em 1992, inclui na sugestão de pauta o casal militante gay Antonio Reis e David Harrad, que havia convidado o recém-criado Grupo Gay da Bahia para que, em Curitiba, falasse com os homossexuais da cidade para uma futura militância. De quebra, acrescenta o fato de panfletos serem jogados pela cidade cujo conteúdo falava sobre a suposta homossexualidade de um candidato a prefeito, chamado no livro de Tafarael Meleca.

A editora, esperta, toma a pauta do ingênuo recém-formado e emplaca matéria não na edição estadual da revista, mas sim na nacional. Deixando Meleca de fora, porém, usando todas as outras fontes sugeridas.

E é justamente na segunda administração de Tafarael Meleca, décadas depois, que José Renato Ribeiro, já maduro e dono de microempresa de comunicação, vê as duas publicações que edita morrerem devido ao corte da Prefeitura Municipal perante às críticas feitas à gestão.

Uma é o Jornal SINDITÁXI-PR, órgão oficial do Sindicato dos Taxistas do Estado do Paraná e a outra o jornal de bairro Folha Curitibana.

O mal do jornalista foi depender apenas da verba municipal para sustentar ambas as publicações; com o corte, tem que fechar sua microempresa.

Emildo Coutinho inclui Jamais Serás um Dhimas Draumann em sua dissertação de mestrado, na Universidade Tecnológica do Paraná (UTFPR), junto com outras obras da literatura em língua portuguesa que aborda a perda da ilusão com o jornalismo representada na literatura de ficção.

“Sempre desempenhei, também, a função de professor, paralela ao jornalismo”, conta o autor. “Foi justamente por isso que não tive tempo de vender para os jornais que editava, fiquei sempre à mercê do Governo em suas três esferas, Federal, Estadual e Municipal. Caso não tivesse esta segunda profissão, o corte da Prefeitura teria me deixado totalmente sem renda, pois era, no momento, a única administração que publicava nos jornais”, completa ele.

O jornalista diz que o prefeito fala que os jornais de bairros são o “sustentáculo de sua administração” pois estão perto do povo e um prefeito deve ir aonde o povo está. “Na verdade, trata-se de uma compra, todos sabem disso. Aqueles que criticam são cortados, como aconteceu comigo. Então, na verdade, o slogan deveria ser ‘um prefeito deve comprar os jornais de bairro para não ter problema de iludir o povo’; e, se pensarmos que se trata de uma verba pública, e que meu dinheiro também está lá, a coisa se torna ainda mais patética”, completa Coutinho.

Há muito mais histórias sobre política no livro, sobre o jornalismo em si e também sobre os dramas humanos e o processo da escrita. Jamais Serás um Dhimas Draumann não terá lançamento físico devido à pandemia do Covid-19 mas pode ser adquirido pelo site da editora através do link https://www.agbook.com.br/book/318308–Jamais_Seras_um_Dhimas_Draumann.

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2 COMENTÁRIOS

  1. Isto mesmo …parabens por parar de puxar o saco da prefeitura…
    esta triste realidade de que pagou falo bem ou fico calado acabou com jornais de Curitiba
    e enterrou jornalistas vivos

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