O Congresso em Foco informa que stá circulando no WhatsApp um áudio que dá um enfoque alternativo e bem mais inquietante às manifestações programadas para o próximo dia 30.
Dura 1’05” (clique no vídeo pouco abaixo para ver) e o locutor se identifica como Beto Fontes, de Londrina, PR, que tem perfil no YouTube como “jornalista investigativo, analista de mídias sociais, ativista e coaching”.
Ele faz a convocação abaixo, que mais parece um chamamento para uma versão brasileira da Marcha sobre Roma de 1922, que marcou a conquista do poder por parte dos camisas negras italianos:
“Este áudio é curtíssimo para que vocês possam compartilhar em todas as redes.
Dia 30/06/2019 voltaremos às ruas contra o crime político organizado.
A pauta será única e objetiva, ou seja, o tiro letal contra a corrupção que vem atravancando um governo que nós elegemos democraticamente.
Todo poder emana do povo, artigo 1º, é constitucional. E o povo irá às ruas ordenado para que o presidente Jair Bolsonaro acione o artigo 142 da Constituição Federal e faça uma faxina constitucional.
[Que] Juízes e políticos corruptos, inclusive jornalistas criminosos, [sejam] julgados e condenados sem redução de pena.
Quem manda no Brasil somos nós e o governo que nós elegemos democraticamente está precisando do nosso apoio.constitucional.
E a pauta é objetiva e única: Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”.
Quanto ao citado artigo 142, eis o que ele estabelece:
“As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”.
Então, depreende-se que o objetivo seja colocar o povo nas ruas para dar ao presidente Jair Bolsonaro um pretexto para ele, presumivelmente em nome da defesa da lei e da ordem, ordenar às Forças Armadas que intervenham no Judiciário, no Legislativo e na imprensa.
Como devemos encarar o áudio radical, bem diferente das convocações feitas, por exemplo, pelo MBL e pelo Vem Pra Rua? Há duas possibilidades:
1. a de o áudio golpista provir de uma vertente secundária da extrema-direita que estaria tentando dar um direcionamento mais radical a tais manifestações;
2. a de tal áudio expressar a verdadeira intenção da extrema-direita com as manifestações e a solidariedade ao Moro ser apenas a versão maquilada,
Também não há como sabermos se isto se faz com a anuência do próprio presidente ou à sua revelia, mas a primeira hipótese se tornará mais plausível caso Bolsonaro venha a investir pesado no acirramento das tensões políticas na semana que vem, durante os dias que antecederão as manifestações de domingo. Se portar-se como bombeiro, desfará suspeitas. Se agir como incendiário, elas crescerão.
Depois dos 36 anos que amargamos sob ditaduras no século passado, não podemos simplesmente descartar a possibilidade de que Bolsonaro decida a virar a mesa para livrar-se das amarras constitucionais, obtendo poderes bem maiores do que a Constituição lhe concede.
Foi o que fez em 1961 outro presidente que não conseguia conviver bem com os pesos e contrapesos de uma democracia. Pretenderá Bolsonaro seguir os passos de Jânio Quadros, frequentemente a ele comparado?